Não consegue desenhar ou pintar se alguém estiver por perto a observar. Maria de Jesus Fernandes, de 74 anos, pinta em segredo. Há dois anos a residir em Benavente para ficar mais perto das filhas, a artista inaugurou no dia 22 de Outubro uma exposição no Núcleo Museológico Agrícola que poderá ser visitada até ao dia 25 de Novembro.
“O meu trabalho é secreto, ninguém pode estar a ver porque eu não sei desenhar. Não sei sequer como desenhei todos estes quadros”, revelou Maria de Jesus ao público presente na inauguração da exposição. Natural de Resende, uma vila do distrito de Viseu, a artista foi trabalhar para Lisboa aos 16 anos, mas a mudança na sua vida estava reservada para os 33, quando foi trabalhar como empregada de limpeza para a fábrica de cerâmica Viúva Lamego.
Um dia, uma pessoa que tinha um ateliê na fábrica incentivou-a a pintar, dando-lhe quatro azulejos, um pincel e algumas tintas. Maria de Jesus foi para casa e meteu mãos à obra. Levou depois os quatro azulejos que retratavam o começo de vida de um casal para o vestiário da fábrica. Os elogios e as encomendas não tardaram. O convite para entrar em exposições também começaram a aparecer em catadupa. Da primeira exposição realizada na Estufa Fria, em Lisboa, a artista recorda-se de ter fugido para a casa de banho quando um jornalista andava à sua procura para a entrevistar. Vendeu todos os 18 quadros que expôs e a partir dessa altura começou verdadeiramente a sua carreira para nunca mais parar.
Já perdeu a conta a tantos diplomas e prémios que arrecadou ao longo dos anos. Para além de ter exposto em várias cidades do país, também já esteve na Checoslováquia, Holanda, Madrid, Cabo Verde ou Tóquio. Pinta sempre paisagens, desde uma estação de comboios até uma tourada. Nos últimos anos deixou de pintar com tanta frequência, mas espera agora retomar a sua arte em Benavente. Já tem em vista um forno para comprar. Só precisa agora de alugar um espaço secreto para dar asas à imaginação.
* Notícia transcrita do semanátrio regional O Mirante (link)
Sugestão:
Esta é que a nossa gente, da diáspora, que deverá "obrigatoriamente" ser convidada a expor no Museu Municipal de Resende.