quinta-feira, novembro 30, 2006

Anselmo Borges debate com Salmon Rushdie

No âmbito do festival Sete Sóis Sete Luas, irá decorrer, na Biblioteca da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira, a partir das 15h de amanhã, dia 1, um debate com Salmon Rushdie, Anselmo Borges e Cláudio Torres sobre o tema "Qual é o Deus do Mediterrâneo?".
Será um dos grandes acontecimentos culturais da semana (aqui e aqui).

terça-feira, novembro 28, 2006

Cemitério de carros em Castro Daire

É da competência das Câmaras Municipais acabar com o triste espectáculo da multiplicação dos cemitérios de carros, obrigando os responsáveis à respectiva remoção.
Esta encosta, pejada de latas no sopé do Montemuro, bem visível da A24, é um atentado à natureza e a todos nós. Dizem que o proprietário desta sucateira tem mau feitio. E depois?

segunda-feira, novembro 27, 2006

G.D.R. na senda das vitórias

O Grupo Desportivo de Resende foi ganhar ao campo de Sant. Besteiros por 1-o.

domingo, novembro 26, 2006

Optimismo e pessimismo

Optimismo e pessimismo: a ambiguidade do mundo (link) é o título do artigo de Anselmo Borges no DN de hoje.

sábado, novembro 25, 2006

Parque fluvial de Porto de Rei submerso pelas águas

O parque fluvial de Porto de Rei (S. João de Fontoura) foi inundado pelas águas, devido às cheias deste fim de semana, que teve também consequências nas Caldas de Aregos.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Cantiga recolhida em Ribeirada/S. João de Fontoura

Como, no próximo domingo, há um magusto com animação musical em S. João de Fontoura, reproduz-se abaixo uma canção, originária de Ribeirada, recolhida por Vergílio Pereira e que integra o Cancioneiro de Resende por si compilado (edição da ex- Junta de Província do Douro Litoral, 1957).
Ó laranja, ó laranja
Ó laranja, ó laranja,
Ó laranja, ó limão!
O pai quer, a mãe consente,
A filha não diz que não...
__________________
A filha não diz que não,
A filha só diz que sim;
Vem cá tu, ó rosa branca,
Criada no meu jardim.
__________________
Criada no meu jardim,
Criada no laranjal,
Vem cá tu, ó rosa branca,
Não te quero nenhum mal.
___________________
Criada no laranjal,
Criada na mesma terra,
Vem cá tu, ó rosa branca,
Os soldados, vão p'ra a guerra.
______________________
Os soldados vão p'ra a guerra,
Soldados p'ra a guerra vão;
Vem cá tu, ó rosa branca,
Amor do meu coração.
______________________
Amor do meu coração,
Amor que já cá estivestes,
Se não estivestes mais tempo,
Foi, amor, que não quisestes...
_______________________
Foi, amor, que não quisestes,
Tiveste-la, ocasião...
Agora quer's, eu não quero,
Tenho minha prejunção.

quinta-feira, novembro 23, 2006

Magusto em S. João de Fontoura no próximo domingo


A Junta de Freguesia de S. João de Fontoura irá realizar, no próximo domingo, a partir das 15h, um magusto, que irá decorrer no salão da Junta, propondo-se ser um convívio para todos os fontourenses, onde não faltará animação musical.

terça-feira, novembro 21, 2006

Sala de Apoio Permanente

Em reunião de Câmara de 17.10.2006, é referida a existência de uma Sala de Apoio Permanente. Sobre este assunto, gostaria de tecer os seguintes comentários:
1. A Sala de Apoio Permanente corresponde a um conceito ultrapassado dos anos 80/90 do século passado, em que a integração era ainda incipiente, sendo os alunos portadores de deficiência colocados numa sala, muitas vezes fora do estabelecimento de ensino, onde desenvolviam actividades específicas, podendo frequentar, de acordo com a natureza e gravidade da deficiência, disciplinas do currículo comum;
2. Actualmente, com o conceito de escola inclusiva, os alunos com necessidades educativas especiais acompanham os seus colegas, estando previstas medidas educativas para que o processo decorra nas melhores condições;
3. Caso a Sala de Apoio Permanente de Resende funcione em espaço fora da escola, a situação é ainda mais estranha, pois vai ao arrepio da legislação e das orientações em curso.

segunda-feira, novembro 20, 2006

7-1

Foi o resultado da vitória do GD Resende frente ao GD Calde.

domingo, novembro 19, 2006

sexta-feira, novembro 17, 2006

Ténis de Mesa em S. Martinho de Mouros

Decorreu, no pavilhão municipal de S. Martinho de Mouros, o torneio de abertura do campeonato distrital de ténis de mesa, cuja associação distrital tem sede nesta vila. Contou com a presença de 70 atletas de 10 clubes, entre os quais o Externato de Resende e os Bombeiros Voluntários de Resende.
A organização deste e de outros eventos reverte sempre positivamente para o concelho, pois abre janelas de oportunidades para o seu desenvolvimento humano e económico.
Para saber mais, clique aqui.

quarta-feira, novembro 15, 2006

Parque eólico no Montemuro/zona de Feirão

Vai começar em breve a edificação deste parque eólico, em cujo empreendimento/sociedade gestora a Câmara de Resende terá uma participação de 15%. O projecto representa um investimento de 35 milhões de euros, prevendo-se a sua conclusão para 2008.
Umas das contrapartidas com consequências imediatas é a requalificação da estrada Resende/Ponte Cavalar, com ligação à A24, para cujas obras já foi aberto concurso público, prevendo-se também para breve a respectiva adjudicação.

segunda-feira, novembro 13, 2006

Contrastes na serra de Montemuro

Vindos de S. Cristóvão, à entrada de Feirão, deparamos com este e outros montes de entulho. Logo a seguir, à direita, na encosta, vê-se uma casa acabada de construir e uma outra ainda em fase de construção.
Do acompanhamento e fiscalização de obras deveria fazer parte a prevenção e a verificação do cumprimento das normas ambientais.
Todos (residentes e visitantes) têm direito a desfrutar da natureza, livre de lixos. E os resendenses querem viver numa terra limpa, para assim a legarem aos seus filhos.
Depois de passar Feirão, felizmente, pude apreciar um rebanho a pastar tranquilamente, em simbiose com a serra, tal como vem sendo hábito desde tempos imemoriais.

domingo, novembro 12, 2006

Anselmo Borges

Escreve no DN de hoje sobre Religião e (in)felicidade (link).
Em 17 e 18, será um dos protagonistas num debate sobre a Mentira (link), que terá lugar na Fundação Eng. António de Almeida (Porto).

sábado, novembro 11, 2006

Homenagem póstuma ao último oleiro de Fazamões

O Rotary Club de Resende homenageou, no passado dia 31 de Outubro, o Mestre Joaquim Alvelos, que faleceu com 85 anos, em Dezembro do ano passado (link).
Infelizmente, a arte da olaria, com grande tradição em Fazamões-Paus, extinguiu-se com a morte deste grande artista, que projectou a nossa terra a nível nacional.
Esperamos que esta extinção seja temporária, pois estamos convictos que a actual jovem Junta de Paus e o Rancho (que tem também por missão não deixar morrer as nossas tradições) arranjarão herdeiros para esta arte.

sexta-feira, novembro 10, 2006

Tempo de magustos

Em família ou em grupos mais alargados, neste fim de semana de S. Martinho, irão decorrer muitos magustos.
Entre outros, registamos:
1. Hoje, às 21h30, haverá um Magusto Solidário, no Celeiro de Aregos, promovido pelo Rotary Club de Resende, com música ao vivo (voz de Ana Maria Pinto), castanhas e bom vinho. A entrada por pessoa será de €5,00, revertendo a favor do Programa de Alfabetização e Cegueira Evitável.
2. Amanhã, dia 11, a Casa de Resende do FCP realiza o tradicional magusto, a partir das 20h00, que incluirá castanhas, vinho, pão e caldo verde, animado com fados.
3. Também amanhã, a Casa do Povo de Resende e a Junta de Freguesia de Resende promoverão um magusto, a partir das 15h00, havendo um concerto com os grupos Tony's Band e Resende em Marcha.
4. Por fim, no Domingo, dia 12, o Rancho de Paus dinamiza uma tarde de convívio, a partir das 14h30, junto da sede do mesmo, com a população local e amigos de outras freguesias. Não irão faltar febras, pão, vinho e as mais saborosas castanhas do concelho.

quarta-feira, novembro 08, 2006

Comunicação de Vítor Borges sobre "Direitos humanos e a dignidade dos doentes pobres"

No âmbito do VII Encontro Nacional da APARF (Associação Portuguesa Amigos de Raoul Follereau), o Dr. Vítor Borges, nosso conterrâneo e advogado em Lisboa, proferiu, no passado dia 4 de Novembro, em Fátima, uma comunicação sobre o tema tão pertinente, embora fora de moda, dos "Direitos humanos e a dignidade dos doentes pobres". Pelo seu interesse, reproduzem-se alguns excertos.
"(...)
Para os cristãos não existe necessidade de qualquer declaração de direitos humanos, na medida que a dignidade de todos e cada um têm aquele fundamento e justifica-se por si.

A partir do racionalismo e do iluminismo europeu, a moral e a ética deixaram de poder ser fundamentados em convicções religiosas e, por isso, houve necessidade de, por outra via, relevar os direitos das pessoas, os chamados direitos humanos.

Como, desde o século XVIII, a sociedade se organizou com o princípio do império da lei, ou seja, todos são iguais perante a lei e todos devem obedecer às leis, foi necessário introduzir nos sistemas jurídicos ocidentais determinadas declarações de princípios positivos que salvaguardassem os direitos iguais das pessoas perante a lei.

A constituição americana (antes, a Magna Carta já considerava direitos civis iguais) foi a primeira a declarar por escrito a dignidade fundamental de todos os seres humanos perante a lei e perante o Estado.

A revolução francesa (jacobina e laica) veio depois, com as três palavras paradigmáticas – liberdade, igualdade e fraternidade – pretender fundamentar a igualdade de todos os seres humanos em princípios de mera racionalidade que tinham a ver com os chamados filósofos das luzes e que tinham sido desenvolvidos, entre outros, por Emanuel Kant.

Vimos depois, nos séculos XIX e XX, que estas declarações de princípios não tiveram grande sucesso.

Foi necessário chegar ao fim da segunda guerra mundial para que os Estados definissem positivamente quais são os direitos fundamentais de todos os seres humanos com a chamada Declaração Universal dos Direitos Humanos adoptada e proclamada pela Assembleia Geral das Nações Unidas em 10 de Dezembro de 1948.

A partir daí muitas outras declarações e textos legais têm sido produzidos como o Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais, a Declaração e Programa de Acção de Viena, a Declaração do Milénio, o Estatuto do Conselho da Europa, a Convenção para a Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais também do Conselho da Europa, a Carta Social Europeia, etc, etc.

Toda esta legislação parte de uma convicção profunda que é a de que todos somos seres humanos, de que todos temos necessidades comuns e todos pertencemos ao género humano.

Enfim, todos somos pessoas e como pessoas somos sujeitos autónomos e livres, capazes de direitos e sujeitos de deveres.

A dignidade da pessoa humana constitui assim o núcleo essencial dos direitos fundamentais.

.............

O seu fundamento já não é nem Deus nem qualquer princípio religioso, mas sim a natureza humana enquanto tal e o chamado direito natural.
.............
Quanto a direitos parece que não faltam, difícil é concretizá-los.
..........
Aparentemente, os direitos humanos, os direitos fundamentais da pessoa humana, os direitos de não discriminação, os direitos dos pobres e os direitos dos doentes (ainda por cima pobres) estão assegurados.

Mas não estão.

Nunca como hoje se falou tanto de direitos humanos, de ética e até de responsabilidade social das empresas e das organizações.

Os Estados modernos assentam na ficção de que todos os homens são iguais.

Contudo, têm dificuldade em fundamentar essa igualdade.

Como são estados democráticos, assente no direito de todos poderem participar na vida pública, ou seja, de votar, e todos construídos no princípio do direito ou do império do lei, não encontram razões que possam justificar qualquer desigualdade.

Para segurança dos próprios Estados e dos cidadãos que representam, as situações de desigualdade extrema ou de pobreza extrema podem criar tensões sociais passíveis de gerarem violência.

Quando os Estados falam de pobreza, hão-de reparar que todos falam da chamada inclusão social.

É necessário que todos se sintam incluídos nos objectivos dos Estados, gerando as situações de exclusão aquelas tensões.

No passado dia 23 de Outubro foi apresentado o chamado Plano Nacional de Acção para a Inclusão (PNAI) relativo aos anos 2006/2008.

No Relatório, é apresentada a situação de pobreza em Portugal que necessariamente nos envergonhará.

Em 2004, cerca de 21% da população portuguesa vivia abaixo do chamado limiar de pobreza.

Na Europa dos 25, esta situação era de 16%.

Há diferenças até entre os sexos, sendo que também em 2004, 22% das mulheres estavam em situação de pobreza contra 20% dos homens, sendo as mulheres a apresentar sistematicamente um risco de pobreza mais elevado desde 1995.

O carácter persistente das situações de pobreza também é evidenciado no Relatório que justifica aquele Plano.

Cerca de 15% da população vivia abaixo do limiar de pobreza em 2001 e em, pelo menos, dois anos dos três precedentes.

Esta situação não resulta de condicionalismos conjunturais, mas estruturais, sendo que é acompanhada de cada vez maior desigualdade na distribuição de rendimentos quanto maior é o desenvolvimento económico do país.

O grau de desigualdade na distribuição dos rendimentos em Portugal é o mais elevado da União Europeia.

Em 2004, a proporção do rendimento recebido pelos 20% de maior rendimentos da população era 7,2x superior à recebida pelos 20% de menores rendimentos.

Na União Europeia esta relação é de 4,8.

Uma sociedade não pode continuar com tão elevado grau de desigualdade, pelo que se impõe a inclusão dos que estão numa situação de potencial exclusão como remédio de eventuais surtos de insegurança ou violência.

Os pobres não são defendidos porque a sociedade lhes reconhece direitos ou lhes reconhece a sua dignidade intrínseca, mas porque é necessário incluí-los porque a sua exclusão é potenciadora de problemas.

Quando os países ricos, como os E.U.A. ou a Europa, definem como política apoiar os países pobres, fazem-no pelas mesmas razões.

Existem, no entanto, pessoas, organizações, instituições que apoiam as pessoas, pobres, doentes, deficientes, nos mais diversos países, incluindo os seus, por motivos, não egoístas, porque lhes reconhecem a sua dignidade humana intrínseca porque criados e filhos do mesmo Deus.

Antes de os Estados se preocuparem com a saúde e o bem estar daquelas pessoas, já outras abriam hospitais, fundavam misericórdias, tratavam dos leprosos e de outros doentes segregados pela sociedade, saíam das suas terras e iam para países inóspitos porque consideravam todas as pessoas iguais, com direitos e dignidade iguais.

Alimentar os que têm fome, dar de beber a quem tem sede, vestir os nus, visitar os doentes, era um imperativo categórico não baseado na razão pura ou prática de Kant, não em qualquer Declaração de Direitos, mas no dever moral de assistir aos seus irmãos, porque têm a dignidade de filhos de Deus.

Hoje fala-se muito em direitos esquecendo-se os deveres.

Em muitos casos considera-se que as pessoas têm direitos conferidos pelo Estado, esquecendo-se os deveres que as pessoas e a sociedade têm não só consigo mas também com os outros.
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Embora da lei escrita (nacional, europeia, transnacional, internacional) conste a total proibição de toda a discriminação, nós sabemos que os doentes pobres são duplamente discriminados, não só por estarem doentes mas, sobretudo, por serem pobres.
............."

segunda-feira, novembro 06, 2006

Prof. António Marques discorda do meu comentário acerca da prestação do Sr. Presidente da Câmara no "Prós e Contras"

Num comentário que teve a amabilidade de me enviar, via e-mail, o Sr. Prof. António Marques refere que o Sr. Presidente da Câmara de Resende não esteve bem no debate em epígrafe, pelos motivos que passo a sintetizar:
i) A proposta de lei das finanças locais, que o Eng. António Borges defende contra 80% de Presidentes de Câmara que têm opinião contrária, penaliza os concelhos pequenos e do interior;
ii) Os "métodos menos ortodoxos" do Dr. Ruas foram desmentidos pelo Presidente socialista, José Apolinário, da Câmara de Faro;
iii) O Sr. Presidente da Câmara de Resende "vestiu a pele" das posições do governo;
iv) Por estas razões, o Sr. Prof. António Marques discorda do comentário que fiz acerca deste assunto.
Nota final: Como resendense, irei aguardar pela aprovação e aplicação da lei para verificar se os concelhos pequenos e do interior (cumpridores) sairão ou não prejudicados, pois o que interessa é o desenvolvimento da nossa terra.

G.D. Resende empata com o G.D.Roriz

No jogo, ontem disputado no Estádio de Fornelos, o G. D. de Resende empatou a 1 bola contra o G. D. de Roriz.
Refira-se que o objectivo do nosso clube concelhio é a passagem à 1.ª divisão distrital.

domingo, novembro 05, 2006

"O enigma do tempo: o instante vivido"

Pensando no instante a viver, espero que o comentário da próxima 2.ª feira, neste blogue, não tenha o título "Ontem não te vi em Paus".

sábado, novembro 04, 2006

Fim da safra das castanhas

Decorre, nos próximos dias, a apanha das últimas castanhas do concelho.
Embora já não tenha o peso de antigamente, em que chegavam a vir muitas pessoas das povoações da serra de Montemuro para este trabalho sazonal (a troco de comida, dormida e uma saca de castanhas), continua a constituir uma ajuda preciosa nas finanças de muitas famílias.
A castanha maior (seleccionada) foi vendida hoje a €0,75 e a restante (misturada) a €0,40.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Cores de Outono em Resende

O Outono tem funcionado para muita gente como uma estação do cair da folha, do início do frio e de alguma melancolia.
Contudo, para quem se dispuser a ver este tempo e estes dias com olhos de ver descobrirá uma verdadeira sinfonia de cores e poderá experienciar um alcance diferente de harmonia. Os vinhedos e as cerejeiras são um autêntico caleidoscópio: o verde, o castanho, o vermelho, o amarelo e o ocre estão lá em diferentes tonalidades.
É um tempo para reconquistar a natureza na diversidade e no silêncio dos dias.

quinta-feira, novembro 02, 2006

A propósito do dia de finados

A minha relação com os mortos foi em criança quase "eu cá tu lá", ou seja, foi algo natural, frequente e familiar. Tudo se conjugava para isso. A mortalidade infantil era muito elevada, havendo muitas famílias com três ou mais "anjinhos". E a esperança de vida para os "sobreviventes" rondava os 60 anos, não sendo a morte "fintada" através de meios técnicos ou científicos ou retardada artificialmente. Quando uma pessoa era atingida por um "malzinho", recebia a extrema-unção, finando-se em paz, passados poucos dias.
Ao passar no meio da aldeia, encontrava frequentemente, sobretudo a partir do cair da folha, o Sr. Zé Maria a "confeccionar" mais um caixão. As urnas, destinadas aos mais endinheirados, eram transportadas de S. Martinho de Mouros, sem segredos, à cabeça de uma mulher.
Como as pessoas, na altura, morriam todas em casa, era obrigação dos vizinhos e amigos ajudarem com a sua presença a ultrapassar o acontecimento doloroso dos familiares dos recém-defuntos. Muitas vezes, eram mais noitadas de convívio, em que corria aguardente em abundância, acompanhada de broa e salpicão, do que ocasiões de luto e de consternação.
Quando morria alguém, a notícia era dada porta à porta. Como os adultos tinham de trabalhar, a tarefa de ir aos funerais era acometida, muitas vezes, às crianças do sexo masculino, a quem era pedido, frequentes vezes, para levar uma opa ou "ir de cruzada". Dos 6 aos 11 anos, acumulei um vasto currículo e experiência de ida a funerais nas freguesias de Paus, S. Martinho de Mouros e S. João de Fontoura. O ritual era sempre o mesmo. Chegado ao destino, estendia a mão a um grupo de homens, alinhados de perfil, que presumia serem familiares do defunto, dizendo em voz firme e bem audível: "Sou filho de Alfredo Borges, que apresenta os seus pêsames". Depois integrava o cortejo no meio dos homens, onde ouvia falar de tudo e até se fechavam negócios.
No dia 1 de Novembro, à tardinha, acompanhava a minha mãe ao cemitério ( na altura um enorme matagal), que cuidadosamente arranjava a campa do meu avô Anselmo, deixando-a coberta de pétalas e com um lampião aceso. No dia seguinte, dia dos fiéis defuntos, terminava um ciclo de relação com a morte e com os mortos.

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É o número de pessoas que foram sepultadas no cemitério de Paus desde 16 de Outubro de 1989.