quarta-feira, abril 30, 2008

Mudança de costumes, mudança de valores

No passado sábado, em passeio pelo Montemuro, no percurso Gralheira/Cinfães, meti conversa com um senhor, de 76 anos, pai de 7 filhos (todos emigrantes), pequeno lavrador e detentor de algum gado, com uma história de vida dura. Seguidamente, encontro uma senhora a quem pergunto se vai ter com o marido. Ajuntei-me a ele, depois da morte da mulher- respondeu. Não somos casados; fazemos companhia um ao outro-acrescentou. E as pessoas aceitam bem?-perguntei. Ninguém me deixou de falar por causa disso-rematou, despreocupadamente.
Há poucos anos a censura social era implacável para com os "mal casados", sobretudo no mundo rural. Mas hoje tudo é diferente, mesmo entre os mais velhos e nos locais mais remotos. Independentemente do respeito pelas opções de cada um, temos de admitir que os novos estilos de vida representam um sintoma da perda de influência da Igreja. E o desencontro tende a aumentar. Enquanto o redil se afasta, os pastores ausentam-se.

terça-feira, abril 29, 2008

Giestas em flor

Quanto a tempo, ontem e hoje é o que se sabe. No passado domingo, à tarde, era assim na Quinta da Cerca (S. Cristóvão/Felgueiras), com estas vacas, pertencentes ao proprietário do Talho Loureiro de Resende, imersas em giestas floridas, cheirando a primavera.

segunda-feira, abril 28, 2008

Lançamento d' "As Monjas de Portejães"

Constituiu um grande acontecimento social e cultural a apresentação do último romance do Dr. Joaquim Correia Duarte, com o espaço do Auditório Municipal completamente cheio. O programa envolveu três momentos: i) lançamento da obra; ii) espectáculo musical (que deslumbrou) e iii) sessão de autógrafos (excepcionalmente concorrida).
O livro poderá ser adquirido nos locais abaixo e da seguinte forma:
1) Resende: Papelaria Lina e Couto
2) Lamego: Gráfica
3) Porto: Livraria Educação Nacional (Rua do Almada, nº 125) e Livraria Latina (Rua de Santa Catarina Nº 2 a 10)
4) Lisboa: Livraria Ferin (Rua Nova do Almada, n.º 70-74)
5) Coimbra: Livraria 115, com várias filiais na cidade
Importante: Também poderá ser pedido directamente ao autor através dos telefones: 254 877 687 e 966 415 180

domingo, abril 27, 2008

Liège

Hoje, dia de aniversário do Bruno, pairámos muito pela Universidade de Liège (link), onde está a fazer Erasmus.
Estamos contigo.

O Papa Bento XVI nos Estados Unidos

Eis o artigo de Anselmo Borges, retirado do DN de ontem:

Embora evitasse temas tão sensíveis nos Estados Unidos como a democracia e a discriminação das mulheres na Igreja ou a pena de morte, por exemplo, há quase unanimidade no reconhecimento do êxito da visita.

Dois objectivos principais moviam o Papa: tentar sarar as feridas profundas na Igreja e no país, causadas pelos abusos sexuais de padres com menores, e a visita à sede das Nações Unidas.

Quanto aos abusos sexuais, logo no voo a caminho de Washington, disse aos jornalistas que sentia “profunda vergonha”. Outra coisa, aliás, não poderia dizer. De facto, trata-se de pelo menos quatro mil padres pedófilos que abusaram de muitos milhares de menores. É repugnante e intolerável, tanto mais quanto a Igreja tem um discurso moral duro e até intolerante sobre a sexualidade. A Igreja perdeu, pois, autoridade moral e muitos crentes sentiram-se abalados na sua confiança.

Em sucessivas intervenções, o Papa referiu o incalculável sofrimento infligido por esses padres e reprovou que a hierarquia tenha “por vezes gerido muito mal” o problema. Depois, num gesto inesperado, ouviu e conversou com um grupo de vítimas, no sentido de restaurar a esperança.

Para que a hipocrisia acabe e a ignomínia se não repita, é preciso tomar medidas concretas, pois a pedofilia é crime e há incompatibilidade entre o sacerdócio e o abuso sexual de menores. Uma das vítimas dirigiu ao Papa palavras duras: “Disse-lhe que tem um cancro na sua Igreja e que tem de fazer algo para atalhá-lo.” Aliás, há muito que a situação era conhecida – basta ler a obra The Changing Face of the Priesthood, de Donald B. Cozzens, que não é anticlerical. São necessárias mudanças, também ao nível institucional, e uma nova visão dos ministérios na Igreja.

No discurso na sede das Nações Unidas, no sexagésimo aniversário da Declaração Universal dos Direitos do Homem, defendeu a universalidade dos direitos humanos, sublinhou o seu fundamento e criticou as interpretações relativistas.

Os direitos humanos baseiam-se na “lei natural inscrita no coração do Homem e presente nas diversas culturas e civilizações”, sendo “cada vez mais apresentados como a linguagem comum e o substrato ético das relações internacionais”.

A sua universalidade, indivisibilidade e interdependência são outras tantas “garantias de protecção da dignidade humana.” É “evidente” que “os direitos reconhecidos e expostos na Declaração se aplicam a cada ser humano em virtude da origem comum da pessoa, a qual continua a ser o ponto central do desígnio criador de Deus para o mundo e para a História.” Desligá-los deste contexto “significaria restringir o seu alcance e ceder a uma concepção relativista, segundo a qual o sentido e a interpretação dos direitos poderiam variar e a sua universalidade poderia ser negada em nome das diferentes concepções culturais, políticas, sociais e mesmo religiosas.”

Ora, “a grande variedade de pontos de vista não pode ser motivo para obscurecer que não são só os direitos que são universais, mas igualmente a pessoa humana, sujeito desses direitos.”

A promoção dos direitos humanos na sua indivisibilidade é “a estratégia mais eficaz” para acabar com as desigualdades e reforçar a segurança. De facto, as vítimas da miséria e do desespero tornam-se presas fáceis dos que recorrem à violência e ameaçam a paz.

Depois de sublinhar a necessidade de “um consenso multilateral” na resolução dos problemas do mundo, talvez a novidade do discurso esteja na afirmação do direito de ingerência: todo o Estado tem o dever primário de proteger a dignidade da pessoa humana e os seus direitos, mas, “se os Estados não são capazes de garantir esta protecção, a comunidade internacional deve intervir com os meios jurídicos previstos pela Carta das Nações Unidas e outros instrumentos internacionais.”

É obvio que os direitos humanos devem incluir o direito à liberdade religiosa, que não se pode limitar ao livre exercício do culto, pois deve-se ter na devida conta “a dimensão pública da religião e, portanto, a possibilidade de os crentes contribuírem para a construção da ordem social.”

sexta-feira, abril 25, 2008

Apresentação d' "As Monjas de Portejães" hoje à noite

O último romance do Dr. Joaquim Correia Duarte será apresentado logo à noite, às 21h30, no Auditório Municipal, pelo Cón. Esteves Alves, que também o prefacia.
Há, pois, que saber travar amiúde a sofreguidão da leitura e parar para meditar a profundidade do pensamento, a reflexão e o juízo de valor, a elevação moral da doutrina e até, por vezes, a asserção aforística, tudo oferecido na limpidez da linguagem, na beleza do estilo, na simplicidade tranquila do diálogo vivo e espontâneo (...). Esteves Alves ( Prelúdio).
Após terminada a apresentação do livro, haverá um momento musical, a que se seguirá a sessão de autógrafos.
Todos são convidados.

quinta-feira, abril 24, 2008

3.º Aniversário da conquista do Dragão d'Ouro

No próximo dia 26 de Abril, com início às 21h00, a Casa de Resende de Futebol Clube do Porto irá festejar esta data.
Será passado um filme que passará em revista os 25 anos de Pinto da Costa como presidente, com destaque para os títulos ganhos neste período.
Pelas 22H00, será servido um Porto com cavacas.

Deslocação do rancho de Paus a Oliveira do Bairro

Com a participação num festival promovido pelo Grupo de S. Simão de Mamarosa (Oliveira do Bairro), no próximo domingo, o rancho de Paus inicia a "temporada" deste ano, divulgando o nosso folclore, de entre o qual sobressai a Chula (linK).

quarta-feira, abril 23, 2008

Miss e Mister 08 do Externato D. Afonso Henriques

Decorre no próximo dia 25, com início às 21h00, o espectáculo da eleição da Miss e do Mister 08, numa iniciativa da Associação de Estudantes do Externato D. Afonso Henriques.

terça-feira, abril 22, 2008

S. João de Fontoura na linha da frente

A Junta de Freguesia tem ao dispor dos seus utentes um livro de sugestões/reclamações, sendo pioneira nesta matéria relativamente às suas congéneres do concelho. Parabéns por esta iniciativa! Quem não deve não teme...
Ainda no que se refere a S. João de Fontoura, é de destacar a constituição, no passado dia 8 de Abril, da primeira associação da freguesia, apoiada pela respectiva Junta, e que dá pelo nome de Associação de Solidariedade Social Padre Antonino Pinto Duarte, em homenagem a este saudoso sacerdote. Tem como objectivo principal implementar o funcionamento de um centro de dia. È intenção da comissão instaladora solicitar a disponibilização de uma escola para o efeito e angariar os fundos necessários.

Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu assina protocolo com ESE da Guarda

Na próxima 2.ª feira, dia 28, pelas 11H00, é assinado na Escola Superior de Educação da Guarda um protocolo de cooperação entre esta instituição, a Federação Portuguesa de Ténis de Mesa e a Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu, que tem a sede em S. Martinho de Mouros.
Eis o endereço e contactos:
Associação de Ténis de Mesa do Distrito de Viseu
Edifício da Junta de Freguesia de S. Martinho de Mouros – Cravêlo
4660-370 – S. Martinho de Mouros – Resende
Tlm: 936304952 / Tlf/Fax: 254939007E-mail: atmdviseu@hotmail.com

segunda-feira, abril 21, 2008

Conversa à lareira em fim de semana chuvoso

Atravessei o Montemuro com muita chuva e vento. Às 18h00 de sábado, estava no Sangens a tomar a bica da praxe. As poucas pessoas discorriam banalidades acerca da crise do PSD e do Porto-Benfica. Levantei-me e fui para o Resende profundo.
Junto à lareira, perguntei por F. a uma vizinha. Arrebentou-lhe uma beia na cabeça e agora está tolhidinho. Mais balera Nosso Senhor lebá-lo. Ele oubir oube. A gente pergunta "onde estás?" E ele diz: "Resende". Onde estás? E ele: "Lamego". Já não diz coisa com coisa. Mas ontem, ainda pediu um copinho. Tem uma força, parece um boi. Alguém lhe disse: "temos de o amarrar". Mas ele respondeu: "meta-se mas é na sua bida".
Perante isto, sugeri: "não era melhor pô-lo num lar?" A vizinha aquiesceu, retorquindo: "o Sr. Dr. Trindade também acha bem; o problema é que não falaram com o gobernador". "Qual governador?"-retorqui. "Atão? o gobernador. Não conhece?"-rematou.
Por acaso, conheço. O governador, que, neste caso, é o Sr. Provedor da Santa Casa da Misericórdia.
Fotos: i)ribeiro de Gosende (afluente do rio Balsemão), sábado às 17H30; ii)junto à capela de S. Cristóvão, domingo às 16h00 e iii) vista para S. Martinho de Mouros, sábado às 19h00.

domingo, abril 20, 2008

APONTAMENTOS SOBRE RELAÇÕES IGREJA(S)-ESTADO (2)

Hoje, tornou-se claro que, em ordem à paz e para evitar o choque das civilizações, se impõe o diálogo entre as culturas e as religiões.O diálogo, porém, não pode ser unidireccional. A liberdade religiosa implica a possibilidade real de praticar a fé, abandonar uma religião, adoptar outra ou nenhuma, problemas que ainda não encontraram solução em muitos países islâmicos e não só - pense-se no jornalista italiano Magdi Allam, muçulmano convertido ao catolicismo e obrigado a viver com escolta policial.
Eis um excerto do artigo de Anselmo Borges, publicado no DN de ontem, que pode ler aqui.

sexta-feira, abril 18, 2008

"As Monjas de Portejães" na Feira do Livro de Coimbra

O último livro do Dr. Joaquim Correia Duarte será uma das novidades da Feira do Livro de Coimbra, que hoje teve início e se prolongará até 3 de Maio. O autor estará presente no recinto deste certame, no final da tarde do próximo domingo, para uma sessão de autógrafos.
Este livro, tal como os anteriores, pode ser adquirido na Livraria 115, em Coimbra.

As Monjas de Portejães é um romance de carácter histórico, em que se conta a gesta ficcionada de um convento de freiras, nos conturbados tempos das invasões francesas e das reformas liberais.

Fundados sempre na intenção de facultar a quem o desejasse, a oportunidade de viver uma vida simples e austera, de total entrega a Deus e aos Irmãos, num ambiente de silêncio e oração, de fraternidade e de paz – um pouco do céu na terra - os mosteiros podiam transformar-se casualmente em prisões ignoradas e ocultas e em antros de vícios e misérias.

Era tudo uma questão de vocação…ou de correspondência à vocação.

Numa vida diária mais ou menos sempre igual, ao ritmo das horas e das rezas, era fácil ser-se feliz, mas também não era raro ser-se desditoso. Sobretudo, quando alguém se recolhia ao convento por motivos incorrectos. Neste último caso, muito frequente na época, tudo podia acontecer: amores platónicos, fugas precipitadas, adultérios mais ou menos consumados, paixões lesbianas, e, também, rivalidades, ciúmes, bisbilhotices e guerrinhas domésticas.

Difamados pela Enciclopédia e perseguidos pelas leis jacobinas e liberais, os mosteiros passaram tempos muito complicados no século dito das “luzes”; só a grandeza moral e a coragem extrema de santas e ousadas mulheres conseguiram resistir-lhes.

Assim foi a última religiosa de Portejães, que a tudo resistiu estoicamente, com uma fé de santa, uma perseverança de justa e um ânimo de campeã
(Contra-Capa).

Torneio de voleibol em Resende com selecção russa

A Selecção Nacional de Cadetes Masculinos vai disputar cinco jogos com a sua congénere russa, durante o torneio bilateral que a Federação Portuguesa de Voleibol, com o apoio da Câmara Municipal de Resende, organiza, de 21 a 28 de Abril, no Pavilhão Gimnodesportivo de Anreade.A Selecção Russa de Cadetes Masculinos, orientada por Sergey Shlyapnikov, chega ao nosso país às 11h00 da próxima segunda-feira (dia 21 de Abril), dia em que fará um treino de adaptação ao recinto de jogo (16h00/17h30).Os jogos entre Portugal e Rússia estão agendados para os dias 22, 23, 25, 26 e 27 de Abril, mas as duas selecções vão treinar diariamente no Pavilhão Gimnodesportivo de Anreade.Os cadetes masculinos estão a desenvolver, sob a supervisão técnica de Juan Diaz, um estágio permanente em Resende, onde estão alojados e a estudar, com o objectivo de compatibilizar o trabalho desportivo com a vida académica.
Retirado daqui.

quarta-feira, abril 16, 2008

O mineiro de S. Cipriano -Artes e marcas de um homem singular*

Quem se deslocar pelas estradas e caminhos do vale do rio Cabrum é surpreendido por diversas esculturas de índole religiosa e popular (alminhas, cruzeiros e estátuas de santos), que projectam as representações e o mundo multifacetado de um homem onde se entrecruzaram as lides do trabalho das minas, o destino da bruxaria e o impulso da cinzelagem da pedra. Vistas como sinal de provocação por alguns, são expressões de uma religiosidade pessoal e heterodoxa, cujo legado merece ser devidamente preservado. Evocam também as suas crenças e conluio com poderes ocultos.

Introdução
Foi num percurso pelo vale do rio Cabrum, levado a efeito pelo Clube Náutico de Caldas de Aregos, que tomei contacto com a faceta de artista de António Pinto Madureira, mais conhecido por mineiro de S. Cipriano. Posteriormente, pude admirar mais pormenorizadamente algumas das esculturas/obras deste artista, espalhadas por Ovadas, S. Cipriano e S. Romão.
Neste roteiro procurei aprofundar junto das pessoas que conheceram e conviveram com António Pinto Madureira a sua faceta de bruxo e curandeiro.

Poderes e curas
A partir de determinada altura, este homem, nascido em Ancede/Baião em 1897, que veio para S. Cipriano aos vinte e três anos “cortar” uma mina e que por cá casou e ficou, exercendo a profissão de pedreiro e mineiro, começou a revelar dotes de curandeiro. A sua eficácia revelou-se sobretudo nas doenças do foro psíquico, atribuídas normalmente a um espírito ruim, possessão demoníaca e mau olhado, ou seja, a uma entidade desconhecida que se apoderava do indivíduo. Face a esta concepção, só os bruxos ou “curadores tradicionais” estariam habilitados a compreender, explicar e tratar estes problemas e experiências, conseguindo responder com êxito às expectativas pessoais, familiares e comunitárias. Foi a este mister que se entregou “o mineiro de S. Cipriano”.
Tendo em conta as enormes carências, o nível de desenvolvimento da medicina, a falta de médicos e outros recursos e o contexto cultural, as pessoas socorriam-se também dele para o tratamento de maleitas e enfermidades corporais, incluindo cancros. No tratamento de todos estes males, utilizava rezas, benzeduras, massagens, apalpações, pomadas e “remédios” feitos à base de ervas e substâncias várias.

Como se faz um bruxo
A ideia de bruxo anda associada à magia, aos saberes curativos tradicionais, rituais de espiritismo e até charlatanismo psicológico. Contudo, os bruxos das aldeias não podem ser confundidos com astrólogos nem com médiuns videntes que se fazem anunciar como professores karambas e similares. Os seus poderes “extraordinários” vão sendo transmitidos discretamente.
Não se torna bruxo quem quer, mas quem a isso é obrigado. A sua vida parece desenrolar-se sob um signo de um destino inelutável que, por vezes, se manifesta antes mesmo do nascimento, quando “chora no ventre materno”. Este sinal relatado pela respectiva mãe é interpretado como uma predestinação. À medida que vai crescendo, a criança denota uma grande inteligência e sensibilidade. É capaz de sentir os sintomas da
s pessoas doentes que se aproximam. Chegada a adolescência e a juventude, cada vez mais ciente da singularidade das suas experiências, o futuro bruxo procura cada vez mais o isolamento e a solidão. São os problemas dos vivos, mas também os espíritos dos mortos, que lhe aparecem e falam, invadindo o seu espaço e mundo interiores.
A partir de determinada altura, além de falarem com ele, os espíritos entram-lhe no corpo. Depois, manifestam-se crises de possessão, ocorrendo fenómenos de transfiguração desordenada e selvagem na intimidade do lar ou diante de vizinhos. Perante esta situação, os seus familiares ou o próprio pedem a ajuda de um padre ou de um bruxo. Caso a intervenção do primeiro seja ineficaz, avançam para uma consulta a um bruxo que, face à especificidade do caso, escolhe uma de duas vias. Ou “fecha o corpo”, reintegrando o indivíduo na sua vida normal, ou continuará o processo de “abrir o corpo”, aprendendo a controlar e mesmo a utilizar o processo da possessão, como percurso para o futuro exercício de múnus de bruxo. Depois é só esperar pelo episódio fulcral que o confirmará como tal: a primeira intervenção de sucesso reconhecida por outrem como tal. A partir daí, terá de lidar com um dom bifacetado, pois conferir-lhe-á poder e estigmatização social. Uma característica, contudo, o acompanhará: a sua identidade de cristão, o uso e abuso de alguns dos seus rituais e a grande religiosidade.
Ao longo da vida, irá ocorrer o apuramento da arte com o contributo de rezas, mezinhas, “amar
rações” e defumadouros, para fazer frente a males do espírito e do corpo.
Ao bruxo está indissociavelmente ligado um espírito auxiliar, regra geral de uma pessoa falecida, ou então um santo, a quem ele chama “guia”.

Memórias
As pessoas que conheceram António Pinto Madureira caracterizam-no como uma pessoa afável, comunicativa, desprendida de bens materiais e muito sensível ao sofrimento e doenças de outrem. Embora conhecido por mineiro, foi sobretudo como pedreiro que ganhou a vida. A autoria do seu trabalho encontra-se espelhada em inúmeras reconstruções, paredes, pequenas casas e canastros. No decurso das obras nas aldeias mais distantes, como Granja, Rossas e Panchorrinha, aqui pernoitava, só retornando a casa ao fim de semana, onde o esperavam inúmeras pessoas com perda de apetite e emagrecimento, cansaço físico inexplicável, sintomas de “encosto”…
Tendo em conta o seu rigor profissional e a apetência pela arte da pedra, as pessoas mais representativas de várias povoações encomendaram-lhe obras de motivação religiosa, algumas das quais destinadas à reposição de monumentos anteriores, como é o caso dos cruzeiros de Santo António - Panchorrinha e de Santa Eufémia-Mariares.
Quando era informado que alguém se encontrava doente, deixava o que estava a fazer para ir oferecer os seus préstimos que, por vezes, eram rejeitados, pois é difícil ser-se profeta na sua própria terra. Das pessoas que contactei nenhuma assumiu tê-lo consultado, não tendo, pelo contrário, algumas delas qualquer problema em referir que o tinham feito com o célebre Dr. Albininho da Póvoa-Paus, “médico”, seu contemporâneo.
O actual presidente da Junta de Ovadas, Sr. Isidro Pereira, ainda se recorda do Sr. António Madureira deixar o trabalho que andava a fazer para a sua avó para ir tratar de um senhor que apresentava sinais de grande agitação e que veio em desespero de causa à sua procura. Foram os dois para uma casa desabitada, de onde, passados alguns minutos, se começou a ouvir o som estranho de vergastadas. Algum tempo depois, o senhor saiu tranquilamente de casa, não apresentando quaisquer sinais de doença.

Bibliografia
Duarte, Joaquim Correia ( 1996). Resende e a sua História (vol. 2). Resende: C.M.R.
Montenegro, Miguel (1998). O mundo do bruxo e do seu cliente. Conferência proferida na Escola Superior de Enfermagem de Vila Real

Perguntas e Respostas

O mineiro usava o livro de S. Cipriano?
É sabido que, além do livro de S. Cipriano, usava também um livro de receitas e mezinhas, cujos excertos/textos, devido à sua reduzida literacia, eram lidos inicialmente por pessoas de sua confiança. Com o esforço do seu didactismo, a leitura por estranhos tornou-se indispensável.
O livro de S. Cipriano, com receitas mágicas e rezas para os mais diversos problemas, inclui esconjuros para erradicar males de encosto, que têm origem na possessão do espírito de um morto.

Qual a sua relação com a religião e os padres?
Como quase sempre aconteceu no passado com este tipo de situações, as relações com a igreja e os padres nunca foram as melhores. A actividade, as interpretações mágico-religiosas da doença e os rituais demoníacos dos bruxos são incompatíveis com as verdades, competências e o ordenamento da Igreja nestas matérias.
Um bruxo é publicamente uma ovelha fora do redil. O Catecismo da Igreja Católica actual considera o recurso ao demónio, à bruxaria, à feitiçaria, à magia e à adivinhação como “práticas gravemente contrárias à virtude da religião”.

Julgava-se pré-destinado e imbuído de dons extraordinários?
Sim. Por isso, actuava na convicção de que podia ajudar a resolver os problemas e males das pessoas, sem intuitos de as explorar.

Deixou filhos?
Não. Quando adoeceu, foi para casa de um sobrinho, residente em Ancede/Baião, ao qual deixou os seus parcos bens. Veio a falecer em 1974.

*Publicado no Jornal de Resende (Novembro de 2007)

terça-feira, abril 15, 2008

25.º Aniversário da ASEL

Este é um grande evento para os antigos alunos dos seminários de Resende e Lamego e para todos os resendenses. O programa tem uma forte componente cultural, esperando-se que o público compareça ao Encontro de Coros, que terá lugar no dia 2 de Maio, pelas 21h00.
Quem passou pelos seminários de Resende e Lamego ainda se pode inscrever. Pode fazê-lo no seminário de Resende ou através dos e-mails: adao.sequeira@sapo.pt ou acandidoteixeira@sapo.pt.
Para visualizar melhor o programa, clique no cartaz ou aqui.

domingo, abril 13, 2008

Entrega da Medalha de Honra ao Sr. Cón. Manuel Esteves Alves

Em sessão solene, que teve lugar no salão nobre dos Paços do Concelho, decorreu na passada sexta-feira, dia 11, pelas 18h00, a entrega da Medalha de Honra do Município ao Cón. Esteves Alves, cuja proposta de atribuição tinha sido aprovada na reunião de Câmara de 6 de Fevereiro passado, tendo a mesma sido "ratificada" pela Assembleia Municipal em 29 do mesmo mês.
O Cónego Manuel Esteves Alves, sacerdote de uma grande cultura, muito conceituado e estimado no concelho e na diocese, é natural de S. Martinho de Mouros. Foi prefeito e professor do Seminário de Resende entre 1968 e 1976 e Vice-Reitor do mesmo a partir desse ano e até 2001. Entre 1991 e 2007, foi Director do Externato D. Afonso Henriques. Leccionou neste estabelecimento e na escola do 2.º ciclo de Resende.
Encontra-se aposentado das lides do ensino, sendo actualmente pároco de S. João de Fontoura.

Transcrevem-se a seguir os termos da proposta da distinção, aprovada em reunião de Câmara:
"Considerando o percurso profissional do senhor Cónego Manuel Esteves Alves, natural da Freguesia de S. Martinho de Mouros deste Concelho, que sempre aliou com o percurso sacerdotal e a insistente procura de conhecimentos;
Considerando que aquele percurso profissional se traduziu num relevante serviço prestado a este Concelho, no domínio da educação e do ensino: - Primeiro no Seminário Menor de Resende, entre 1968 e 1976, como prefeito de estudos e professor, e de Outubro de 1976 até Setembro de 2001, como Vice-Reitor; - Leccionou na Escola Preparatória de Resende e no Externato D. Afonso Henriques; - Desempenhou as elevadas funções de Director do Externato D. Afonso Henriques entre 1991 e 31 de Agosto de 2007;
Considerando que foram muitos os seminaristas deste Concelho e alunos da Escola Preparatória e do referido Externato que beneficiaram dos conhecimentos profícuos que o mesmo lhes ministrou;
Considerando que o Regulamento Municipal de Atribuição de Condecorações, na parte final do seu n.º 2 do art. 2.º estipula que a medalha de honra do município se destina a distinguir pessoas que se notabilizem por relevantes serviços prestados ao concelho;
Sugiro que a Câmara Municipal, nos termos do art.º 7.º do citado Regulamento, proponha à Assembleia Municipal a atribuição da medalha de honra do município ao senhor Cónego Manuel Esteves Alves, com os fundamentos atrás aludidos"

sábado, abril 12, 2008

Noite de sarau cultural

Estou a chegar do sarau cultural do Colégio de São Martinho (Coimbra), onde actuou a Filipa. Magnífico. Em todas as modalidades (dança, teatro, ginástica, música...), as raparigas estiveram sempre em maioria. Por motivos variados: porque se oferecem, porque querem aproveitar oportunidades, porque pretendem enriquecer-se e mostrar talentos.
Com determinação e persistência estão a agarrar o futuro. O mundo será cada vez mais delas.

APONTAMENTOS SOBRE RELAÇÕES IGREJA(S)-ESTADO (1)

Enquanto forças vivas da sociedade, tem de reconhecer-se à Igreja e às diferentes confissões religiosas liberdade para anunciarem a sua mensagem, que implica também denúncias de injustiças e pronunciamentos nos domínios da sociedade e dos seus valores e antivalores. Mas, dentro do pluralismo de valores, a Igreja, no cumprimento da sua missão, tem de contar com a sua força moral e espiritual de convicção e não com a força do braço secular.
Eis um excerto da reflexão de Anselmo Borges no DN de hoje, que pode ler aqui na íntegra.

quinta-feira, abril 10, 2008

Nascer do Sol em S. Cristóvão















Acaso esta beleza não é visível a todos aqueles que têm intacta a capacidade de sentir? Por que é que ela não diz o mesmo a todos? Os animais pequenos e grandes vêem-na, mas não a podem interrogar. Com efeito, neles, a razão não preside aos sentidos para avaliar o que eles transmitem. Os homens, porém podem interrogá-la (...).
Santo Agostinho (Confissões)

terça-feira, abril 08, 2008

Chula de Paus *

Vai-te embora, mês de Maio,
Com tuas variedades;
Deixas campos de flores
E a mim deixas soidades.

Amas a Nosso Senhor,
Que morreu por toda a gente
E a mim não tens amor,
Que morro por ti somente!

Dizeis que o amor qu'é doce
E eu digo que amarga bem;
P'lo que eu tenho passado,
Não se pode amar ninguém.

Vós, meninas, ser a neve,
Vosso pai é o calor,
Vosso pai derrete a neve
E vós derreteis o amor...

Adeus, ó lugar de Corbeda,
Nem és vila nem cidade;
És um povo pequenino,
Donde reina a mocidade.

*Canção originária de Córdova, ex-libris do Rancho de Paus e traço identitário do nosso concelho

domingo, abril 06, 2008

Comunicação do Dr. Joaquim Correia Duarte na Academia Portuguesa de História

No próximo dia 9, quarta-feira, pelas 15 horas, o Dr. Joaquim Correia Duarte apresentará uma comunicação na Academia Portuguesa de História (link), intitulada Santa Maria de Cárquere em Resende: a "cura milagrosa" do nosso primeiro Rei e os "primeiros passos" da nossa História.
Refira-se que o Sr. Dr. Joaquim Correia Duarte foi proposto e aceite por unanimidade como membro da Academia Portuguesa de História há cerca de um ano (link). Irá falar aos académicos de um tema controverso que nos é especialmente caro.
A sessão é aberta ao público. Informações sobre telefones, localização e outros dados da Academia podem ser encontrados aqui.

sábado, abril 05, 2008

"Do transcender ao transcendente"

A vida é exaltante, mas também é terrível - traz, por vezes, dificuldades e opções que exigem algo de heróico. E há quem não aguenta. E foge-se, alienado, para a droga, por exemplo, e "viaja-se". Mas, quando se regressa da "viagem", os problemas estão lá todos, com uma agravante: há menos força para enfrentá-los e superá-los, na alegria de crescer e transcender. No bom transcender - no amor, na produção, na investigação, na obra de arte, na contemplação da beleza, na generosidade frente à vida, na religião criadora --, o horizonte alarga-se, há mais vida partilhada, humanidade livre, justa e feliz, criação do novo, esperança que toca o Além.
Eis um excerto da reflexão de Anselmo Borges no DN de hoje, que pode ler aqui.

sexta-feira, abril 04, 2008

Rancho de Paus no You Tube

O Ivo Cardoso filmou algumas cenas da actuação do Rancho de Paus na última Festa da Cerejeira em Flor. Para ver e ouvir, basta clicar:
1. Aqui
2. Aqui
3. Aqui
4. Aqui
5. Aqui

quinta-feira, abril 03, 2008

X Festival da Canção do Concelho de Resende

Excerto do Regulamento Intern0
Art.º 1.º- Podem concorrer todos os indivíduos a partir dos 12 anos de idade;
Art.ª 2.º- As inscrições serão gratuitas;
Art.º 3.º- Todas as canções concorrentes terão de ser inéditas e, obrigatoriamente, interpretadas em Língua Portuguesa;
Art.º 4.º As canções concorrentes terão tema livre;
Art.º 5.º- Os concorrentes terão de entregar as fitas, maquetes ou CD's das canções à organização até ao dia 13 de Junho de 2008.
a) Um CD minimamente audível com a gravação completa da(s) canção(ões) com que pretende(m) concorrer;
b) Duas cópias d(s) letra(s) dactilografada(s);
c) A ficha de inscrição devidamente preenchida na qual deverão constar: nome(s) do(s) cantor(es) da letra e da música e do(s) nome(s) do(s) intérprete(s) e do(s) acompanhante(s), bem como a morada completa.
O solicitado em a), b) e c) deve ser entregues em mão ou enviado, via CTT, para a organização:
Irmandade de S. Francisco Xavier
Feira Nova
4660-370 S. Martinho de Mouros

Como informação complementar, convém referir que serão premiados os três melhores classificados: 1.º prémio-€500,00; 2.º prémio-€375,00 e 3.º prémio-€250,00. Será ainda premiado o melhor intérprete e cada concorrente receberá um prémio de participação.
Caso queira consultar o regulamento completo, basta enviar um e-mail para este blogue. Qualquer pedido de informação poderá ser feito para os telefones: 254 939 082/935 050 432/935 050 422.

quarta-feira, abril 02, 2008

Mais uma iniciativa da Junta de Freguesia de S. João de Fontoura

Após a disponibilização dos seus equipamentos e apoio aos contribuintes para entrega da declaração de IRS pela Internet, a Junta de Freguesia de S. João de Fontoura, aderiu a mais uma iniciativa, a qual prossegue dois objectivos nobres: i) ajudar à AMI e ii) preservar o ambiente.


Reciclagem de consumíveis informáticos e de telemóveis
  • A Junta de Freguesia de São João de Fontoura está a participar no projecto de reciclagem de consumíveis informáticos e/ou de telemóveis da Fundação AMI - Assistência Médica Internacional.
  • Este projecto visa a recuperação de consumíveis informáticos – tinteiros e toners-, que pela sua composição resultam altamente nocivos ao meio ambiente, contendo pigmentos - no caso da tinta - e pó de toner microfino - no caso das impressoras laser. Com esta iniciativa estarão a contribuir para a defesa do meio ambiente. A AMI coloca contentores de reciclagem, e posteriormente faz a recolha dos mesmos.
  • O projecto de reciclagem de consumíveis informáticos e de telemóveis é já há muito praticada noutros países europeus. Este projecto permite defender o ambiente - já que estes materiais contêm resíduos perigosos - ao mesmo tempo que é uma fonte de financiamento para os projectos humanitários e de acção social que a AMI desenvolve em Portugal e no Mundo.
Para se pôr a par do que se passa em S. João de Fontoura, sugere-se uma visita regular ao site da Junta, linkada aqui ao lado e que tem feito um esforço de actualização.

terça-feira, abril 01, 2008

Viagem ao Dragão

A Casa de Resende do FCP está a organizar uma viagem para assistir ao FC Porto X E. Amadora, que se realizará no próximo dia 5 de Abril. A partida será às 15h30, esperando os mais entusiastas festejar a conquista do campeonato.
As inscrições processam-se na sede Casa dos Dragões (link). Parece que os sócios pagam 10 euros e os não sócios 15 euros (tudo incluído).