Foi um Encontro onde muito se falou de felicidade, prazer, sofrimento e infelicidade. Mas apetece perguntar: a montante foi criada uma dinâmica de bem estar? As pessoas sentiram-se acolhidas pela organização? Andavam satisfeitas? Gostaram das conferências?
Sim. A intendência estava bem oleada. O secretariado respondeu bem e esteve sempre atento. A comida estava excelente. As pessoas cumprimentavam-se e falavam como se já se conhecessem. Foram trocados muitos “bons-dias” felizes. Viveram-se dois dias de novidade. Os participantes dirigiam-se para o anfiteatro (sempre cheio), onde sabiam que os esperava a palavra livre, reflectida, convicta e corajosa. Anselmo Borges foi um árbitro atento que fez cumprir horários, gerindo bem o tempo de cada conferência e das intervenções da assistência. Em cada sessão, apetecia continuar, aumentando a vontade de voltar.
O local onde decorreu o Colóquio também contou para este “bom clima”. O edifício do Seminário, construído nos anos 60, de linhas geométricas, marca a diferença pela harmonia e beleza, conjugando austeridade e algum conforto.
Os participantes voltaram para casa com mais fé? Mais comprometidos com Deus? Não sabemos. Porque desconhecemos em que Deus as pessoas acreditam. Saíram, contudo, com mais dados e instrumentos de análise para retomarem a adesão à Palavra libertadora do Evangelho, anunciadora de uma vida digna e feliz já na terra. A religião legal, burocratizada e institucional e o Deus da ira, da vingança, da guerra e do poder ou legitimador do poder (no fundo, um deus de infelicidade) foram zurzidos com veemência. Muitas aprendizagens, consideradas como verdades, foram reconsideradas à luz de uma nova visão da compreensão da história e do mundo, para a qual contribuíram os avanços científicos e novas metodologias de investigação, designadamente a aplicação do método histórico-crítico como chave interpretativa das narrações bíblicas.
O que foi dito abala o que se aprendeu, mas ajuda a posicionar-nos no campo correcto e ir à luta, dialogando com os que põem em causa, muitas vezes justamente, e de forma recorrente, o percurso e as posições da Igreja e as concepções de Deus, veiculadas pelo Velho Testamento. Alguns críticos saltam até o campo da razoabilidade para a chacota. Em relação a estes estamos conversados. Contudo, com os outros é possível dialogar a partir do reconhecimento comum de factos que ocorreram no passado, designadamente da instrumentalização da religião, que distorceu a mensagem originária. E é enriquecedor para todos. O diálogo com o mundo cada vez mais secularizado supõe conhecimento , abertura cultural e convicções (que também se vão construindo). Caso contrário, sobra a fuga, o enquistamento e o definhamento da Igreja, cujo legado é insubstituível.
Neste sentido, este Colóquio fortaleceu ainda mais a fé daqueles que acham que deve ser apoiada no discernimento e na razão, aclarando situações que muitos teimam em manter dúbias. Foi uma chave que irá abrir muitas portas. Tem razão, pois, o Superior Geral da Sociedade Missionária da Boa Nova, quando na sessão de encerramento afirmou que estes Colóquios (que devem continuar) cumprem uma missão cívica e cultural.