Cá em casa, os mais novos exigem um pinheiro "descomunal", que chegue pelo menos ao tecto. Este ano, atrasei-me na encomenda. Perante a minha desolação frente a uma espécime de pigmeus, o fornecedor lá me foi dizendo que passasse dali a três dias. "Talvez ainda se arranje qualquer coisa". O que é certo é que, durante toda a semana, não pude por lá passar. Cheguei assim às vésperas de Natal sem o dito pinheiro. Mas ele não podia faltar. Muni-me de um pequeno serrote e pensei: amanhã de manhã, vou à procura do dito. Impus-me duas condições: ser um abate "fitossanitário" e discreto.
Passei junto ao primeiro pinhal, mas fui em frente, devido ao muito movimento de carros. Mais à frente, virei para uma estrada camarária, praticamente deserta, mas desisti, pois vi dois carros estacionados, cujos donos deviam ser caçadores. Deixei a zona, andei cerca de 5Km e encontrei novo pinhal. Virei para um "carreiro asfaltado" e pensei que era o local ideal para cometer o delito. Mas, passados uns 500 m, fui desembocar numa pequena aldeia. Nada feito.
Voltei para outra zona, cheia de pinheiros. E pensei: agora é que vai ser. Enfiei para uma estrada secundária e parei para observar o terreno. Quando já estava escolhido o pinheiro, aproximou-se um senhor de motorizada com cara de poucos amigos. Cheguei a recear o pior. Desisti e meti por outra estrada. Outro azar. Deparei com um grupo de homens a pedalar em passeio matinal. Esperei. Agora, era uma patrulha de escuteiros em manobras. Achei que já era demais e resolvi voltar para casa. Desanimado.
Pelo caminho, pensei: estás a ser um cobardolas. Tinha de aparecer em casa com o pinheiro. Lembrei-me então que tinha passado por um sítio com entulhos, onde estava escrito: "vende-se terreno". E cogitei: é o local ideal. Pus-me a caminho. Chegado ao cenário, paro, saio da estrada, estaciono junto ao entulho e observo à volta. Vejo um carro parado que, perante a minha presença, se pôs em andamento. Hesitei: estará a espiar-me? Mas estava decidido. Fui escolher um pinheiro tosco. Serrei-o, pu-lo na carrinha e liguei a ignição. Contudo, a surpresa final estava para vir. Estaciona um carro ao meu lado e pensei: agora é que estou mesmo f... Abri o vidro e perguntei "o meu amigo precisa de alguma coisa? Ao que ele me responde: "não; estacionei por causa de atender um telefonema".