terça-feira, junho 24, 2008

Joaquim Pinto- "Pinto's Cabeleireiros" no Jornal de Resende*

A DISTINÇÃO NA ARTE DE CABELEIREIRO

Ningm vaticinaria que uma criança de S. Martinho de Mouros, que aos 10 anos já guardava gado e ajudava os pais no amanho das terras, se haveria de distinguir como um dos cabeleireiros de referência da capital, cujo salão é disputado pela nata da classe política, profissionais liberais, jornalistas e empresários. Apesar do seu notável currículo, que inclui inúmeros prémios, diplomas, medalhas e taças, continua a ostentar com orgulho as suas origens humildes e a sua pertença ao nosso concelho. Não perde uma ocasião para dar a conhecer e projectar o nome de Resende.

Introdução
Eram cerca de 20h00 de um feriado quando entrei no salão Pinto’s Cabeleireiros no Centro Comercial Apolo 70, em Lisboa. Previamente, tinha sido atraído por diversos expositores com uma valiosa colecção de diversos materiais que fazem a história da barbearia ao longo dos últimos duzentos anos, aguçando a curiosidade de quem passa. Apesar da jornada extenuante, com quinze clientes atendidos, a afabilidade e a disponibilidade cativante de Joaquim Pinto derrubaram todas as inibições. O início da conversa andou à volta do nosso concelho. Depois, foi a passagem para o seu percurso profissional.
Nunca embandeiro
u em arco. Assumiu o elogio da modéstia como a qualidade que conduz e dá consistência e lastro ao êxito. Segundo ele, é imprescindível conjugá-la com a persistência e uma preocupação muito especial com os clientes, para que a receita fique completa. E afirma convicto: “Aqui impera a exigência em satisfazer as pessoas, devendo existir uma adequação a cada caso; o cliente é o nosso superior, por isso, mais que fazer perguntas cabe-nos ouvir”. Embora saibamos que é o cabeleireiro de famosos e de altos dignitários como o actual Presidente da República, Cavaco Silva, prefere referir clientes infelizmente já falecidos como Sá Carneiro, Mota Pinto ou Magalhães Mota, para “não criar susceptibilidades, pois os políticos cultivam alguma reserva”. Ouvir Joaquim Pinto é assistir a lições de alta diplomacia. Preferiu munir-me de um currículo onde constam dados numéricos respeitantes a determinadas categorias de clientes, de que se destacam, por exemplo, 7 ministros e 5 embaixadores, mostrando-se sempre recalcitrante em referir nomes.
Volta e meia, a nossa terra vem à baila. Nota-se que tem um prazer especial em mencionar os clientes natu
rais do nosso concelho e da nossa região, entre os quais, se encontram Fernando Nunes (presidente da Visabeira), Dr. Pedro Manuel de Magalhães e João Nuno Magalhães (da casa de Rendufe), Eng. Leopoldo Pereira Pinto (da casa da Soenga), António Alexandre Matos Borges (de Felgueiras), Dr. José Joaquim Carvalho Botelho (irmão do bispo de Lamego) e Dr. Vítor Borges (advogado). Já quase na despedida formulou um voto: “Desejo distribuir os troféus e todo o reconhecimento público por todos resendenses; ao engrandecerem-me, estão a engrandecer a nossa terra”. As últimas palavras foram de carinho para a sua mulher, Aurora da Silva Osório, também natural de S. Martinho de Mouros, que considera o seu braço direito na intendência do salão.

De S. Martinho de Mouros para Lisboa com passagem pela tropa
Joaquim Pinto nasceu em 1942 na freguesia de S. Martinho de Mouros. Filho de um pequeno agricultor e pertencente a uma família numerosa, o destino parecia talhado: trabalhar a terra e guardar o gado. Ao contrário do seu irmão António, mais velho dois anos, que começara a aprender a
profissão de barbeiro com um tio, terminada a escola primária, para ele não se vislumbravam outras alternativas. A falta de clientela não se compadecia com três barbeiros na família, embora desde pequeno alimentasse esse sonho. E assim continuou na terra, ajudando os pais, tendo chegado a integrar várias rogas nas vindimas no Douro.
Ating
idos os 18 anos, tal como muitos conterrâneos, resolveu tentar a sorte em Lisboa. Começou por trabalhar numa marcenaria, complementando o ordenado com uns “biscates” como ajudante de pedreiro. Sempre que podia, ia aprender a fazer barbas e a cortar cabelos para um salão onde trabalhava um outro tio. Já casado, assentou praça em Braga. Questionado sobre qual a sua profissão, sentindo que já tinha algum domínio sobre a arte, informou ser barbeiro. Feita a recruta, seguiu para a Figueira da Foz, onde tirou a especialidade de clarim, no final da qual nasceu o seu primeiro filho. Como não tinha dinheiro para a viagem, pediu para ir trabalhar para a barbearia da unidade para aí ganhar uns trocos. Deste modo, reuniu o dinheiro necessário para os transportes, tendo conhecido o filho passado um mês. Quando regressou, solicitou que o deixassem trabalhar como efectivo na barbearia, tendo o pedido sido aceite. Passado algum tempo, foi mobilizado para a Guiné, onde permaneceu 22 meses, tendo sido o barbeiro da companhia, livrando-se assim das operações no mato.

Trajecto profissional
Regressado a Lisboa, tornava-se necessário arranjar trabalho. Confrontado com as rotinas da barbearia da tropa, teve receio de não corresponder imediatamente às exigências dos clientes de um salão, pelo que optou por se empregar na Fábrica de Munições de Moscavide. Passado um mês, contudo, ganhou coragem e aceitou um convite para ir trabalhar para uma barbearia, situada também em Moscavide, tendo iniciado funções em 16 de Agosto de 1966. Após 3 semanas, apanhou uma grande decepção, pois o patrão considerou-o “sem garra”, pelo que se despediu. Provando que este juízo não tinha o mínimo fundamento, iniciou, após este episódio, uma carreira fulgurante.
No novo
salão onde começou a trabalhar, foi-lhe estabelecido um vencimento de 370 escudos, mas, passado um mês, já estava a ganhar 470. Tendo em conta as suas qualidades profissionais, começou a receber convites da concorrência. Por isso, passado um ano já estava a ganhar o dobro, ou seja, 900 escudos por semana. Em 1969, já integrava um dos melhores salões da Baixa de Lisboa. Num percurso sempre ascendente, realizou o seu grande sonho, mudando-se definitivamente para o salão do Apolo 70 em 1976, indo trabalhar com o irmão António Pinto. Esta dupla, doseada de muita criatividade e ambição, torna-se imbatível na arte de bem cortar e pentear cabelos, sendo procurada por uma clientela exigente e pela fina flor lisboeta. Recentemente, cada um dos irmãos decidiu seguir o seu caminho.

Excelência e reconhecimento público
Joaquim Pinto apostou sempre no seu próprio aperfeiçoamento e formação profissional, procurando testar publicamente as suas capacidades através de provas, festivais e concursos. Logo em 1968, foi um dos vencedores de um torneio de penteado masculino, organizado pela Escola de Profissionais de Barbeiros e Cabeleireiros do Sul, na sequência de um curso para obtenção da carteira profissional. Seguiram-se vários cursos de reciclagem e especialização em várias técnicas e produtos, o que lhe permitiu ser distinguido com vários troféus a nível nacional e internacional. Fora de portas, ganhou várias medalhas e taças, entre as quais, uma medalha de ouro em Cannes (com o seu irmão), em 1987, uma medalha de prata no Campeonato Mundial de la Coiffeur, em Paris, em 1980, e uma outra medalha de prata no Campeonato da Europa, realizado em Paris, em 1986. A nível nacional, de entre outras distinções, é de realçar o Óscar recebido pela vitória no 1.º Hair Faishon Portugal Awards, que se realizou no Casino Estoril, em 5 de Maio de 2007.
Dentro do seu vasto e rico currículo, é de realçar a sua acção como dirigent
e associativo, apresentador de linhas de moda de penteado masculino e membro de júris de concursos do sector. Já foi convidado de vários programas de televisão e objecto de reportagens e artigos de inúmeros jornais e revistas de circulação nacional, de que são exemplos o Expresso, a Sábado, a Visão, o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, o Correio da Manhã e o Tal e Qual.

Perguntas e Respostas

Já foi objecto de alguma distinção por parte da Câmara Municipal de Resende?
Em reunião camarária, realizada em 17.07.2007, na sequência do 1.º prémio/Óscar do I Hair Fashion Awards, que lhe foi atribuído, foi aprovado por unanimidade um voto de louvor, nestes termos: “Que a Câmara Municipal de Resende reconheça o mérito deste nosso conterrâneo e que fique, desta forma, indicado para que nas próximas distinções que a Câmara venha a fazer lhe seja atribuída a Medalha do Concelho (…)”.

Qual o seu hobby favorito?
Continuar a enriquecer o seu já valioso espólio de objectos ligados à artes de barbear e cortar o cabelo, composto por cerca de 200 navalhas, entre as quais a que aparou a real barba de D. Carlos I, ferros de torcer bigodes, bacias dos barbeiros dentistas, embalagens de brilhantina, taças de sabão, espanadores, tesouras e muito mais.
Esta colecção já esteve patente, entre outros locais, no Palácio Foz, na Sala de Exposições da Caixa Geral de Depósitos, na Feira
Internacional de Lisboa, na Exposição Calouste Gulbenkian (Paris) e no Salão dos Congressos do Estoril. Joaquim Pinto continua disponível para que a mesma possa estar patente também no Museu Municipal de Resende.

Endereço

Joaquim Pinto-Pinto’s Cabeleireiros

Av. Júlio Dinis, 10-A, Loja 45

1069-216 Lisboa Telef. 217 966 718

http://pintoscabeleireiros.com/

E-mail: joaquimpinto@pintoscabeleireiros.com

*Publicado no Jornal de Resende (Janeiro de 2008)