Ninguém vaticinaria que uma criança de S. Martinho de Mouros, que aos 10 anos já guardava gado e ajudava os pais no amanho das terras, se haveria de distinguir como um dos cabeleireiros de referência da capital, cujo salão é disputado pela nata da classe política, profissionais liberais, jornalistas e empresários. Apesar do seu notável currículo, que inclui inúmeros prémios, diplomas, medalhas e taças, continua a ostentar com orgulho as suas origens humildes e a sua pertença ao nosso concelho. Não perde uma ocasião para dar a conhecer e projectar o nome de Resende.
Introdução
Eram cerca de 20h00 de um feriado quando entrei no salão Pinto’s Cabeleireiros no Centro Comercial Apolo 70,
Nunca embandeirou
Volta e meia, a nossa terra vem à baila. Nota-se que tem um prazer especial em mencionar os clientes naturais do nosso concelho e da nossa região, entre os quais, se encontram Fernando Nunes (presidente da Visabeira), Dr. Pedro Manuel de Magalhães e João Nuno Magalhães (da casa de Rendufe), Eng. Leopoldo Pereira Pinto (da casa da Soenga), António Alexandre Matos Borges (de Felgueiras), Dr. José Joaquim Carvalho Botelho (irmão do bispo de Lamego) e Dr. Vítor Borges (advogado). Já quase na despedida formulou um voto: “Desejo distribuir os troféus e todo o reconhecimento público por todos resendenses; ao engrandecerem-me, estão a engrandecer a nossa terra”. As últimas palavras foram de carinho para a sua mulher, Aurora da Silva Osório, também natural de S. Martinho de Mouros, que considera o seu braço direito na intendência do salão.
De S. Martinho de Mouros para Lisboa com passagem pela tropa
Joaquim Pinto nasceu em 1942 na freguesia de S. Martinho de Mouros. Filho de um pequeno agricultor e pertencente a uma família numerosa, o destino parecia talhado: trabalhar a terra e guardar o gado. Ao contrário do seu irmão António, mais velho dois anos, que começara a aprender a profissão de barbeiro com um tio, terminada a escola primária, para ele não se vislumbravam outras alternativas. A falta de clientela não se compadecia com três barbeiros na família, embora desde pequeno alimentasse esse sonho. E assim continuou na terra, ajudando os pais, tendo chegado a integrar várias rogas nas vindimas no Douro.
Atingidos os 18 anos, tal como muitos conterrâneos, resolveu tentar a sorte
Trajecto profissional
Regressado a Lisboa, tornava-se necessário arranjar trabalho. Confrontado com as rotinas da barbearia da tropa, teve receio de não corresponder imediatamente às exigências dos clientes de um salão, pelo que optou por se empregar na Fábrica de Munições de Moscavide. Passado um mês, contudo, ganhou coragem e aceitou um convite para ir trabalhar para uma barbearia, situada também em Moscavide, tendo iniciado funções em 16 de Agosto de 1966. Após 3 semanas, apanhou uma grande decepção, pois o patrão considerou-o “sem garra”, pelo que se despediu. Provando que este juízo não tinha o mínimo fundamento, iniciou, após este episódio, uma carreira fulgurante.
No novo salão onde começou a trabalhar, foi-lhe estabelecido um vencimento de 370 escudos, mas, passado um mês, já estava a ganhar 470. Tendo em conta as suas qualidades profissionais, começou a receber convites da concorrência. Por isso, passado um ano já estava a ganhar o dobro, ou seja, 900 escudos por semana. Em 1969, já integrava um dos melhores salões da Baixa de Lisboa. Num percurso sempre ascendente, realizou o seu grande sonho, mudando-se definitivamente para o salão do Apolo 70 em 1976, indo trabalhar com o irmão António Pinto. Esta dupla, doseada de muita criatividade e ambição, torna-se imbatível na arte de bem cortar e pentear cabelos, sendo procurada por uma clientela exigente e pela fina flor lisboeta. Recentemente, cada um dos irmãos decidiu seguir o seu caminho.
Excelência e reconhecimento público
Joaquim Pinto apostou sempre no seu próprio aperfeiçoamento e formação profissional, procurando testar publicamente as suas capacidades através de provas, festivais e concursos. Logo em 1968, foi um dos vencedores de um torneio de penteado masculino, organizado pela Escola de Profissionais de Barbeiros e Cabeleireiros do Sul, na sequência de um curso para obtenção da carteira profissional. Seguiram-se vários cursos de reciclagem e especialização em várias técnicas e produtos, o que lhe permitiu ser distinguido com vários troféus a nível nacional e internacional. Fora de portas, ganhou várias medalhas e taças, entre as quais, uma medalha de ouro em Cannes (com o seu irmão), em 1987, uma medalha de prata no Campeonato Mundial de
Dentro do seu vasto e rico currículo, é de realçar a sua acção como dirigente associativo, apresentador de linhas de moda de penteado masculino e membro de júris de concursos do sector. Já foi convidado de vários programas de televisão e objecto de reportagens e artigos de inúmeros jornais e revistas de circulação nacional, de que são exemplos o Expresso, a Sábado, a Visão, o Diário de Notícias, o Jornal de Notícias, o Correio da Manhã e o Tal e Qual.
Perguntas e Respostas
Já foi objecto de alguma distinção por parte da Câmara Municipal de Resende?
Em reunião camarária, realizada em 17.07.2007, na sequência do 1.º prémio/Óscar do I Hair Fashion Awards, que lhe foi atribuído, foi aprovado por unanimidade um voto de louvor, nestes termos: “Que a Câmara Municipal de Resende reconheça o mérito deste nosso conterrâneo e que fique, desta forma, indicado para que nas próximas distinções que a Câmara venha a fazer lhe seja atribuída a Medalha do Concelho (…)”.
Qual o seu hobby favorito?
Continuar a enriquecer o seu já valioso espólio de objectos ligados à artes de barbear e cortar o cabelo, composto por cerca de 200 navalhas, entre as quais a que aparou a real barba de D. Carlos I, ferros de torcer bigodes, bacias dos barbeiros dentistas, embalagens de brilhantina, taças de sabão, espanadores, tesouras e muito mais.
Esta colecção já esteve patente, entre outros locais, no Palácio Foz, na Sala de Exposições da Caixa Geral de Depósitos, na Feira Internacional de Lisboa, na Exposição Calouste Gulbenkian (Paris) e no Salão dos Congressos do Estoril. Joaquim Pinto continua disponível para que a mesma possa estar patente também no Museu Municipal de Resende.
Endereço
Joaquim Pinto-Pinto’s Cabeleireiros
Av. Júlio Dinis, 10-A, Loja 45
1069-216 Lisboa Telef. 217 966 718
http://pintoscabeleireiros.com/
E-mail: joaquimpinto@pintoscabeleireiros.com
*Publicado no Jornal de Resende (Janeiro de 2008)