A situação espiritual do nosso mundo
Conferência de Jean-Paul Willaime (École Pratique des Hautes Études,
Paris)
Deus parece
ter o futuro assegurado, pois o facto religioso constitui um facto cultural e
social massivo, que tem atravessado os séculos e as culturas, havendo fortes
razões para que isso continue acontecer. As tentativas de substituir Deus por
ideologias seculares teve como consequência os piores totalitarismos. Opor uma
sociedade religiosa a uma sociedade ateia é um beco sem saída. O desafio do
futuro de Deus é também o desafio do seu lugar nas sociedades democráticas,
respeitando os direitos de cada um e tendo em conta a pluralidade das religiões
e das convicções não religiosas. Uma laicidade bem compreendida é, portanto,
uma condição sine qua non do futuro
de Deus.
Referiu
que, com os grandes fenómenos migratórios e a mundialização, o futuro de Deus
depende mais dos indivíduos do que dos territórios e dos Estados que são religiosos. É por isso
que o cristianismo é cada vez mais uma religião africana, asiática…, enquanto o
islão se torna cada vez mais uma religião europeia.
Dividiu a
reflexão em 4 partes. Na 1.ª, lembrou a tese clássica da secularização, segundo
a qual quanto mais modernidade houver menos haveria de religioso. Na 2.ª,
explicou por que estamos numa fase nova
da modernidade, que chamou ultramodernidade, na qual a sociedade aparece tanto
pós-secular como pós-religiosa. Na 3.ª, descreveu as mutações do religioso
nesta conjuntura. Finalmente na 4.ª e última parte, explicou de que modo é que
as religiões constituem trunfos e recursos preciosos num mundo completamente
desencantado.
Em
conclusão, ousou a hipótese do futuro de
Deus como o melhor garante do futuro do homem, nomeadamente para assegurar o
futuro de um ideal humanista e solidário ameaçado por uma mercantilização e
tecnicização cegas. Deus não disse, pois, ainda a sua última palavra.
A ciência e o divino
Conferência de Carlos Fiolhais (Universidade de Coimbra)
Há uma
ordem no mundo e os físicos procuram essa ordem através da linguagem
matemática. Há cientistas agnósticos ou ateus e há cientista crentes. São
também um produto do contexto em que viveram. Os cientistas não procuram Deus
através das suas descobertas. Contudo, o crente poderá ver nas descobertas a
ordem(e as maravilhas) de Deus.
Falou do
bosão de Higgs/partícula de Deus, de quarks, electrões e neutrinos.
Apresentou os
grandes nomes da física, desde Galileu, Copérnico, Max Plank, Albert Einstein…, até Werner Heisenberg e Max Born, todos Nobel
desde que foi instituído este prémio, com as descobertas que os celebrizaram,
tendo para cada um deles exposto o que pensavam acerca da Transcendência, a respectiva
relação com Deus e a necessidade da existência/negação de Deus. Chamou a
atenção para o facto de muitos físicos usarem a palavra Deus no sentido metafórico.
“O que
havia antes do big bang não sei”,
referiu. O universo teve um início, estando as galáxias a afastar-se significativamente e a
temperatura a baixar. É semi-eterno, no sentido em que teve início, mas não
terá fim.
Considerou que há um território de sobreposição entre religião e ciência, no campo de interesses e preocupações e até de linguagem, onde é possível e até convém falar.
Natureza ou criação? O novo ateísmo
Conferência de Leandro Sequeiros (Cátedra Ciência, Tecnologia, Religião, Córdova)
Há uma
fissura entre uma interpretação científica e uma interpretação religiosa do
mundo.
Segundo a
explicação na base do naturalismo, a natureza é o princípio absoluto da realidade,
não sendo necessário nenhum ser explicativo. Aliás de acordo com Darwin, a
natureza é por si mesma criadora.
No pólo
oposto, o fundamentalismo religioso postula um criacionismo científico. Por sua
vez, na base da corrente do chamado desígnio inteligente encontra-se um
criacionismo encoberto. Segundo os seus mentores, um relógio implica a
existência de um relojoeiro. A complexidade é irredutível, não podendo ser explicada pela evolução.
O novo
ateísmo científico (representado por Richard Dawkins, Daniel Dennett, Sam
Harris, Christopher Stephen Hawking)
surge como resposta à necessidade da existência de Deus enquanto criador e à
concepção do desígnio inteligente. Os primeiros quatro nomes são considerados
como os “quatro cavaleiros” do novo ateísmo.
De acordo com esta corrente, Deus, a religião e a fé são irracionais e
devem por isso ser erradicados. Sam
Harris chega a postular uma moral baseada na selecção natural.
Além destas
concepções extremadas, há cientistas e académicos defensores de uma terceira
via, que não excluem Deus nem Darwin. Para eles Deus cria na evolução.
Nota: Colóquio organizado por Anselmo Borges