Cresci com as pessoas a queixarem-se que andavam a cagar no frasco. Exceptuando uma ínfima minoria, todos cagavam no frasco, tendo em conta a diminuta matéria fecal. Para obviar a tal défice de produção, muitos partiram para trabalhar na cintura industrial de Lisboa ou emigraram com destino à Europa nas décadas de 60 e 70 do século passado. As políticas sociais do consulado de Marcelo Caetano e as profundas alterações ocorridas com o 25 de Abril permitiram alguma decência e democratização no acesso à qualidade de vida, deixando, a partir de então, de se ouvir a expressão "cagar no frasco", por inadequação de vasilhame.
Contudo, mesmo sendo omitida, a expressão está presente na reflexão e no diálogo interno prévio às grandes decisões como limiar a que se tem de fugir a sete pés. Para uma larga faixa da população, o sentido de voto nas eleições legislativas do próximo domingo andará à volta da matéria ("orgânica"): a classe dos que andam a cagar no frasco orientará o seu voto no partido que melhores condições oferece para a retirar desta situação; a plêiade dos restantes votará em quem melhor garanta o afastamento deste cenário. O resto, para quem tem de contar os tostões, é conversa fiada.