Era a primeira operação no leste de Angola, num percurso entre Cacolo e Alto Chicapa, onde, por vezes, aconteciam algumas escaramuças. Como "maçaricos" íamos com muita cautela e algum receio. Para dar o exemplo, posicionei-me à frente da coluna. Às tantas, perdemo-nos e começámos a ter a percepção que a mata nos ia encurralando. As rações de combate iam minguando. E o cansaço aumentando. Às tantas, aproximou-se um soldado, que me disse: agora vou eu à frente; romper o capim e iniciar o trilho não é brincadeira. E assim se fez. Por coincidência, passados dez minutos, avistámos um rio. O nosso norte.
Nasceu aí uma amizade e uma relação de confiança a toda a prova.
Passado um mês, fomos colocados em Cacolo, a poucos metros da fronteira com a República do Zaire. O destacamento, comandado por mim, era constituído por três furriéis (Travessa, Augusto e Falcão) e por cerca de 40 soldados, quase todos nativos. O ambiente entre todos e com a população foi sempre excelente. A guerra esteve sempre ausente. Tiros só para a caça. Foi só preciso enfrentar o isolamento durante 15 meses. O apoio e a camaradagem do José António Costa foram extraordinários. Sempre bem disposto (com histórias mirabulantes) e disponível. E exímio nos petiscos de caça, que me preparava.
O Costa (mais conhecido por Coimbra, por ser da zona, e também por Zé Viana, embora desconheça a razão) fez a diferença e imprimiu um "clima" ao grupo. Sem traumas ou gente "cacimbada".
Reencontrei-o em Ançã, no passado dia 19, aquando do festival de folclore, onde esteve presente o Rancho de Paus. Durante alguma horas, nessa tarde, o tempo voltou para trás e a nossa idade rondou os 23 anos.