terça-feira, março 11, 2008

Seminário de Resende*

Desde há 80 anos que centenas e centenas de jovens, provenientes das 233 paróquias da Diocese de Lamego, passaram e viveram aqui anos decisivos das suas vidas. Como padres, advogados, engenheiros, professores, nas mais diversas profissões, têm sido e continuarão a ser os melhores arautos da nossa terra.

Bem longe da Manhã Submersa
Eram 12h20 de um sábado frio de Janeiro, quando toquei à campainha do Seminário. Cá fora, alguns jovens conversavam animadamente. Como o Sr. P. Paulo Alves, Vice-Reitor, tinha ido acompanhar um grupo de seminaristas às piscinas municipais, fui conduzido ao ginásio/pavilhão desportivo, onde o Sr. P. José Fernando com um grupo de seminaristas consertava as balizas, preparando este espaço para a tarde de convívio desportivo que aí iria decorrer com o Agrupamento de Escuteiros de S. Martinho de Mouros. Entretanto, o P. Fernando solicitou ao João Pedro, aluno do 12.º ano, para servir de guia, incumbindo-o de me mostrar as instalações do Seminário. Tive oportunidade de ver a capela, um confortável mini-auditório, uma sala de ensaio de instrumentos musicais, o salão de estudo, a camarata para os alunos do ensino básico e os quartos individuais para os alunos do ensino secundário. No percurso, pude observar a animação de um jogo de pingue-pongue na sala de convívio e a boa disposição de um grupo de jovens na sala de informática. Os corredores mostram fotos/quadros alusivos ao património distintivo dos vários concelhos de onde os seminaristas são provenientes.
Entretanto, a campainha tocou para o almoço. Os jovens dirigiram-se para o refeitório, aguardando de pé e serenamente junto às respectivas mesas a chegada dos senhores padres. Feita a oração, começou o repasto que incluiu vitela, proveniente da quinta do Seminário. A refeição decorreu em ambiente de grande descontracção, notando-se existir um clima de confiança e de à vontade entre os alunos e os elementos da equipa formadora, patente nos sorrisos, cumplicidades e dichotes.
Findo o café, lá por volta das 14h30, chegaram os escuteiros de S. Martinho de Mouros. Pelo calor das saudações e pelo entrosamento verificado parecia que todos já se conheciam há muito. Mas mais que palavras esperava-os uma tarde de convívio desportivo.

Breve resenha histórica
O Dr. Manuel Rebelo Moniz, então presidente da Câmara Municipal de Resende, tendo tomado conhecimento que a Casa do Sais, um grande e belo solar do século XVIII, se encontrava à venda, não perdeu tempo e disto informou o bispo da altura, D. Agostinho de Jesus e Sousa. De facto, as instalações do Seminário de Lamego, que na altura era frequentado por 90 aluno, tornavam-se exíguas, impondo-se a aquisição de um estabelecimento complementar. E a decisão foi rápida. O Dr. Manuel Rebelo Moniz e o Deão da Sé, Cónego Carneiro Mesquita, dirigiram-se a Lisboa, tendo adquirido o imóvel a um sobrinho das irmãs D. Virgínia e D. Maria José Pereira dos Santos, tendo a escritura sido efectuada pouco tempo depois, ou seja em 17 de Setembro de 1928. Após algumas obras de adaptação, o Seminário foi solenemente inaugurado no dia 18 de Novembro desse mesmo ano.
Foi um dia memorável. A festa começou com uma grandiosa procissão com início na capela de Nossa Senhora de Rendufe, onde se encontrava a imagem de Nossa Senhora de Lourdes da Casa dos Sais, que para aí fora transferida devido às obras. Seguiu-se uma missa solene, presida pelo Senhor Bispo, tendo o sermão estado a cargo do Cónego Dr. Francisco Correia Pinto, ilustre resendense, então no auge da fama como orador sagrado. Após um dia de júbilo, ficaram em Resende 60 seminaristas, que se tornaram os pioneiros e os estreantes do Seminário. Os restantes trinta voltaram para Lamego numa velha camioneta (Cf. Duarte, Joaquim Correia, in Plano de Formação 2007-2008, Seminário de Resende).

Remando contra a maré
O Seminário de Resende é dirigido por uma equipa jovem, que acredita no projecto de uma instituição de acompanhamento de candidatos ao sacerdócio desde bastante cedo. No presente ano lectivo, são 29 os jovens que frequentam o 3.º ciclo do ensino básico e 14 o ensino secundário no Externato D. Afonso Henriques, instituição pertencente à Igreja, cujo director pedagógico é o P. José Augusto, que é também o Director Espiritual do Seminário. Esta situação ajuda a criar condições psicológicas de respeito e até incentivo pelo percurso escolhido, tornando improvável a ocorrência de atitudes de desconsideração e animosidade por parte da comunidade educativa.
A Diocese de Lamego é das poucas que continua a apostar no Seminário Menor como estrutura educativa de suporte aos jovens que um dia se sentiram interpelados pelo sacerdócio ou que fundadamente põem esta opção como percurso para as suas vidas. Para isso, decorrem ao longo do ano várias acções e encontros de promoção vocacional pelas várias paróquias, que têm dado frutos. De entre as dioceses que têm Seminário Menor em funcionamento, o de Resende é presentemente o mais frequentado. Segue-se o Seminário Menor de Vila Real, cujo Vice-Reitor é o P. Manuel Linda, natural de Paus, com 32 alunos. O Seminário Menor de Braga, outrora um alfobre de vocações, tem presentemente 18 alunos. O de Fundão (diocese da Guarda) alberga apenas 6 seminaristas. A Diocese de Viseu fechou recentemente o seu Seminário Menor, situado em Fornos de Algodres, tendo os seus seminaristas sido transferidos para as instalações do Seminário Maior, encontrando-se o seu número reduzido a 5. As Dioceses de Leiria-Fátima, Coimbra, Aveiro, Portalegre e Castelo Branco e Évora não têm em funcionamento Seminário Menor. Os candidatos ao sacerdócio destas dioceses, com pelo menos o 12.º ano, frequentam um ano propedêutico no Seminário de Leiria, onde lhes é proposto um conjunto de actividades de formação humano-espiritual de ajuda ao discernimento vocacional, antes do seu ingresso nos estudos teológicos.
Muitas dioceses estão a ser interpeladas pelo exemplo de eficácia do Seminário de Resende, estando a repensar a melhor estratégia no campo das vocações e do acompanhamento dos jovens candidatos ao sacerdócio. Há quem esteja a concluir que, a partir do ensino secundário, os ouvidos se vão tornando cada vez mais surdos à voz do chamamento.

O dia-a-dia no Seminário
Durante as aulas, os seminaristas levantam-se às 07h00, iniciando o dia com a celebração da missa meia hora depois. Após o pequeno-almoço, dirigem-se para o Externato, onde vão frequentar as aulas. Ao fim da tarde, está programado um período de estudo com cerca de 1 hora e 45 minutos e um tempo de oração. O jantar chega por volta das 08h00. Após o repasto e convívio, há um tempo de formação com uma área específica para cada um dos dias de semana: formação cultural (visionamento de filmes, debates, etc.), formação doutrinal, formação espiritual, formação musical e desporto. As luzes para dormir apagam-se às 22h30.
Nos fins-de-semana, o horário é mais flexível. No sábado de manhã, os seminaristas vão às piscinas municipais e, à tarde, podem ocorrer diversas actividades, variando com as circunstâncias e as solicitações: desporto, convívios com grupos de jovens, saídas para as paróquias, apanha da fruta ou até pequenos trabalhos de limpeza. A manhã de domingo, exceptuando um tempo de preparação para a missa, que tem início às 12h00, é livre, podendo os seminaristas dedicar-se à leitura na biblioteca. À tarde, os mais velhos (do 10.º ao 12.º ano) vão dar um passeio pela vila e os mais novos ficam no Seminário, pois muitos pais aproveitam este período para os visitar. Refira-se a propósito que os seminaristas podem ir a casa de três em três semanas.

Tempo de discernimento
O Seminário como oportunidade de os pobres estudarem e subirem na vida acabou. O ensino básico e secundário deixou de ser privilégio de alguns, tendo-se generalizado a todas as crianças e jovens. A decisão de ingressar no Seminário é cada vez mais uma opção pessoal, fruto e consequência de interpelações várias, sendo cada vez menos condicionada pelo ambiente sociológico e familiar. A função do Seminário Menor é, assim, a de criar condições para os jovens irem discernindo o caminho que devem tomar, oferecendo razões que sustentem as suas convicções em ordem a uma decisão esclarecida. A equipa formadora do Seminário de Resende e o seu projecto têm provado que estão a cumprir bem este desiderato.

Ano de efemérides
Em 2008, faz 150 anos que Nossa Senhora, padroeira do Seminário sob a invocação de Lourdes, apareceu nesta localidade francesa. Esta ligação deve-se ao facto de na Quinta dos Sais ter sido construída, em 1874, a primeira capela em honra de Nossa Senhora de Lourdes. A comemoração da data da primeira aparição foi antecipada este ano para o dia anterior (domingo, 10 de Fevereiro), tendo-se revestido de um significado especial, cujo programa incluiu uma conferência pelo Senhor Bispo da Guarda, uma Eucaristia Solene e a actuação da Banda de S. Cipriano “A Nova”.
Comemora-se também o octogésimo ano de funcionamento do Seminário, pois as respectivas instalações foram inauguradas em 18 de Novembro de 1928. E, por fim, nos próximos dias 2, 3 e 4 de Maio, a A.S.E.L. (Associação dos Antigos Alunos dos Seminários da Diocese de Lamego) comemora, em Resende, as bodas de prata com várias iniciativas culturais (conferências, apresentação do livro “Estrela Polar-Antologia”, um encontro de coros e uma visita ao concelho).

Perguntas e Respostas

Por quem é constituída a equipa formadora?
A actual equipa, muito coesa e experiente, é constituída pelos Padres Paulo Alves (Vice-Reitor), José Augusto (Director Espiritual), José Fernando e Marcos Alvim (Prefeitos de Estudos) e pelo Diácono Jorge Henriques (Estagiário).

O Seminário tem registado um equilíbrio financeiro?
Sim. Com uma gestão muito rigorosa. O Seminário de Resende não tem representado um encargo adicional para a Diocese. A propriedade agrícola, onde trabalham permanentemente 4 empregados, é devidamente rentabilizada, tendo inclusive uma exploração pecuária, que permite a comercialização de vitelos e a produção de leite (vendido à Agros). Como afirma o Sr. Vice-Reitor, Padre Paulo Alves, “somos como qualquer família, vivemos do que temos”.
A Câmara Municipal tem contribuído com materiais para obras de reparação e de pintura das instalações.

É garantido o ingresso no Seminário a quem não possa pagar a mensalidade estipulada?
Sim. Ninguém deixa de ser admitido no Seminário por falta de recursos. Quando a família do candidato não pode contribuir com a mensalidade estipulada, que está bem longe de cobrir os custos reais, é procurada uma solução e apoio junto de párocos, de benfeitores e das comunidades paroquiais, que até ao presente têm correspondido generosamente.

Contacto:

Seminário Nossa Senhora de Lourdes

Quinta do Sais

4660-210 Resende

Telef. 254 870 140/961 606 283/Fax: 254 870 149

Página Web: www.seminarioderesende.com / E-mail: snslr@hotmail.com

*Apontamento escrito para o Jornal de Resende (Fevereiro de 2008)