domingo, maio 27, 2007

Quarto domingo de Maio em Cárquere*

O quarto domingo actualmente
Esta romaria continua a manter-se viva, constituindo um marco de religiosidade na diocese de Lamego.
Deve ser das poucas romarias da região exclusivamente com programa religioso. As várias interrupções, a última das quais ocorrida em 1920 por determinação do bispo de Lamego, devidas a abusos e desacatos ocorridos no percurso, serviram de vacina, tendo sido determinantes para a inexistência de qualquer programa profano.
Há séculos que se repetem os mesmos rituais. Como no passado, este ano, o programa permanece o mesmo. Às 09h30, está prevista a chegada de S. Ex.cia Rev.ma, o Senhor Bispo, junto ao Mosteiro. Às 10h00, inicia-se a concentração e organização das procissões nos locais tradicionais. Pelas 10h30, com o toque dos sinos da torre medieval, inicia-se no “Medorno” a grande procissão formada por todos os grupos das freguesias com as respectivas cruzes e estandartes. Com os párocos, caminham todos a cantar em uníssono as ladainhas como antigamente, terminando no sítio do Carvalhal. Chegados aqui, segue-se, pelas 11h00, a concelebração da Missa Campal. Após a mesma, procede-se à procissão de recolha do andor até à igreja por entre cânticos e invocações, assinalada por uma grande quantidade foguetes. Seguem-se as merendas e as actuações, durante toda a tarde, das bandas de música “A Velha” e “A Nova” de S. Cipriano. Às 17h00, tem início a procissão do Santíssimo, finda a qual termina também a Peregrinação do concelho a Cárquere.

Perguntas e Respostas
Actualmente, na procissão fazem-se representar todas as paróquias do concelho como há anos atrás? Há para o efeito mobilização dos respectivos párocos?
Há cerca de vinte anos atrás só três paróquias é que se faziam representar na Procissão. Depois de uma análise realizada pelos párocos do concelho, procedeu-se a uma reformulação da Peregrinação do IV Domingo, tendo em conta as razões e motivações que estiveram na origem e continuidade desta “Peregrinação do Concelho de Resende a Nossa Senhora de Cárquere”. Para que esta seja de facto a Peregrinação do concelho, há um envolvimento de todos os párocos, mormente nas reuniões de Arciprestado, afim de mobilizar todas as paróquias. Hoje todas as 15 paróquias do concelho vêm à Peregrinação, participando na Procissão e na Missa Campal no Carvalhal, presidida pelo Bispo da Diocese. Além disso, cada paróquia intervém na Oração dos Fiéis.
No seu entender, o que leva as pessoas actualmente a aderir à procissão e às outras cerimónias do 4.º domingo? Acha que, em relação ao passado, há alteração nas motivações das pessoas?
Penso que não se alterou a razão principal da vinda à Peregrinação. Pode haver um ou outro que venha por turismo, mas o motivo que move a esta Peregrinação é, sem dúvida, a fé. As pessoas vêm pedir a bênção para si, para os campos e culturas, aliás as razões históricas desta Peregrinação. Num mundo onde tudo é relativo, onde parece não haver valores, as pessoas sentem cada vez mais necessidade de encontrar “algo” que dê sentido às suas vidas.
Esta romaria atrai essencialmente gentes de Resende? Ou também é significativa para as gentes de concelhos vizinhos?
Obviamente que a maioria é do concelho de Resende. No entanto, há muita gente de outros recantos de Portugal, sobretudo aqueles que têm algum relacionamento com gentes desta terra. De realçar que, com a abertura da Ponte da Ermida, nota-se um grande afluir de pessoas da outra margem do rio.
Qual a estrutura organizativa responsável pelo planeamento e concretização do programa desta festividade?
É a “Comissão da Peregrinação a Nossa Senhora de Cárquere”. Esta Comissão tem cerca de 20 elementos, todos de Cárquere, e é presidida pelo pároco.
Fora do 4.º domingo, nota uma particular devoção das gentes do nosso concelho por N. Sra. de Cárquere?
Além dos turistas que amiúde vêm aqui, uma vez que o Mosteiro é Monumento Nacional, há muita gente, devota de Nossa Senhora de Cárquere, que passa por aqui. Há peregrinos ao longo de todo o ano, sobretudo aos fins-de-semana. Gente que vem a pé, que faz romarias à volta da Igreja, que reza em silêncio, que cumpre promessas, enfim, há uma grande devoção a Nossa Senhora de Cárquere ao longo de todo o ano.
Nota: Agradeço ao Sr. P. Arménio Almeida, pároco de Cárquere, a colaboração prestada.
*Escrito para o Jornal de Resende (Maio de 2007)