E os outros?Todos conhecemos pessoas que passaram dificuldades inenarráveis, muitas privações, fome até, maus tratos, na terra onde nasceram, mas mesmo assim mantêm um desejo: retornar. Por quê? Quanto a mim, por dois motivos essenciais:
-A nossa memória é muito selectiva, que vela pelo nosso bem estar e torna mais amena a nossa existência. À medida que o tempo passa, tendemos a esquecer ou a dar menos relevância aos acontecimentos mais amargos, sobressaindo os factos mais positivos e os registos felizes. As relações entre as pessoas são filtradas das matizes mais turbulentas, havendo com o distanciamento uma leitura de contexto, que é mais realista e benevolente.
- Longe da terra de origem, as vidas foram construídas com mais ou menos sucesso, mas acompanhadas de stresse, lutas, preocupações, agressividade e alguma/muita competição. Nas grandes cidades, as horas são consumidas nos transportes e no trabalho, sobrando pouco tempo para a família e o cultivo das relações sociais. No emprego, há muito jogo duplo e muita farsa. Entre os vizinhos vai-se instalando o anonimato.
A terra de origem é o reencontro com as referências e as memórias primordiais, a tranquilidade, a estabilidade, o conhecido. Uma âncora segura. Espaço de manifestação sadia de afectos. De estabelecimento e de troca de relações serenas. Sem competição.
O mesmo pode não acontecer entre os residentes habituais.