Ao passar no passado sábado em Feirão, fui transportado para tempos da minha infância. Era já jovem quando conheci esta freguesia, mas ainda criança conheci a "Fraguinha" de Feirão. Foi na época das castanhas, em tempo de frio. Tinha vestida uma capuchinha e aparentava ter cerca de 50 anos. Pareceu-me ser uma senhora muito simpática, correspondendo ao perfil compartilhado pela totalidade das pessoas. Lembro-me de ter cantado umas quadras e ter evocado algumas passagens da Bíblia. A minha mãe deu-lhe uma malga de sopa e uma esmola. A "Fraguinha" agradeceu com um Pai Nosso e rezou pelas almas do Purgatório.
Voltou mais vezes, sendo sempre recebida com muita simpatia. Era uma pedinte carismática, pela alegria que a todos contagiava. Apesar de atingida pela amargura da vida, não era uma pessoa sofrida. Constitui uma lição para a presente geração, muito centrada em si mesma, pouco tolerante nas contrariedades e pouco treinada para a recompensa diferida.
Como diria Eça de Queirós, o mal de muita gente é sofrer de fartura...