Antigamente, a vida de fidalgo era vista com respeito e até inveja. Vida equiparada só a de abade. Só os insensatos diziam gostar de fossar a terra de sol a sol ou “ganhar o pão com o suor do rosto”. O incentivo ao estudo tinha como objectivo ultrapassar este destino. Bastava ter a 4.ª classe para arranjar uma ocupação num escritório ou repartição. Os outros tinham de trabalhar.
Os professores davam aulas; os alunos estudavam; os médicos atendiam doentes; os advogados defendiam causas; os guarda-livros tratavam da contabilidade; os escriturários mexiam e tratavam da papelada; os paquetes faziam recados. Estes profissionais consideravam-se uns privilegiados. Sabiam distinguir a natureza das funções e actividades que desenvolviam, não as confundindo com o trabalho nos campos, oficinas e fábricas.
Actualmente, todos são uns moiros de trabalho. Se alguém tem o atrevimento de exclamar “com que então mudaste de carro?”, é mimado com uma resposta do género “sim, mas saiu-me do pêlo”. Se um amigo felicita outro pelo périplo de férias, sujeita-se a ouvir “também tenho direito, não é só vergar a mola, não achas?”. Se um companheiro de escola graceja para outro “gostava de ter a tua sorte, já reformado e com saúde”, receberá como resposta “já não era sem tempo, passei a vida a aturar incompetentes e a suar as estopinhas”.
Face à chaga do desemprego, ninguém dá graças pela sua situação. Face ao mourejar de muitos ao sol e à chuva, ninguém enfatiza as condições do seu escritório, gabinete, repartição ou sala de aulas. O testemunho da dureza do trabalho é apregoado com orgulho.
Quem questionar a premência de encharcar o mundo com cada vez mais produção inútil, o actual modelo de desenvolvimento ou a possibilidade de diminuição do tempo de trabalho, face à sofisticação das máquinas, sujeita-se a ser postergado para a valeta dos malandros e dos irresponsáveis.
Houve um objectivo de vida, traçado pelo meu pai, que foi cumprido: “estudar para não ficar agarrado à enxada”. Há um outro, condão dos outrora fidalgos, dificilmente alcançável, “não ter de aturar patrões”.
Os professores davam aulas; os alunos estudavam; os médicos atendiam doentes; os advogados defendiam causas; os guarda-livros tratavam da contabilidade; os escriturários mexiam e tratavam da papelada; os paquetes faziam recados. Estes profissionais consideravam-se uns privilegiados. Sabiam distinguir a natureza das funções e actividades que desenvolviam, não as confundindo com o trabalho nos campos, oficinas e fábricas.
Actualmente, todos são uns moiros de trabalho. Se alguém tem o atrevimento de exclamar “com que então mudaste de carro?”, é mimado com uma resposta do género “sim, mas saiu-me do pêlo”. Se um amigo felicita outro pelo périplo de férias, sujeita-se a ouvir “também tenho direito, não é só vergar a mola, não achas?”. Se um companheiro de escola graceja para outro “gostava de ter a tua sorte, já reformado e com saúde”, receberá como resposta “já não era sem tempo, passei a vida a aturar incompetentes e a suar as estopinhas”.
Face à chaga do desemprego, ninguém dá graças pela sua situação. Face ao mourejar de muitos ao sol e à chuva, ninguém enfatiza as condições do seu escritório, gabinete, repartição ou sala de aulas. O testemunho da dureza do trabalho é apregoado com orgulho.
Quem questionar a premência de encharcar o mundo com cada vez mais produção inútil, o actual modelo de desenvolvimento ou a possibilidade de diminuição do tempo de trabalho, face à sofisticação das máquinas, sujeita-se a ser postergado para a valeta dos malandros e dos irresponsáveis.
Houve um objectivo de vida, traçado pelo meu pai, que foi cumprido: “estudar para não ficar agarrado à enxada”. Há um outro, condão dos outrora fidalgos, dificilmente alcançável, “não ter de aturar patrões”.