domingo, outubro 19, 2008

Apontamento do "Expresso" presta um mau serviço a Resende

Intitulado "Do que a terra dá", o apontamento inserido na Revista Única do Expresso desta semana não corresponde à verdade e presta um mau serviço a Resende. Chamadas de atenção "No concelho com menor poder de compra do país, vive-se do que a terra garante e o céu promete. Em Resende, falta quase tudo, mas sobeja a certeza de que a maior das fortunas é ter fé, saúde e crianças ao redor" ou "o concelho de Resende está envelhecido e vive de uma agricultura de subsistência" ou ainda "Rosita tem 15 anos e um rebanho para cuidar. Nos tempos livres vai à escola. Anda no oitavo ano" induzirão a pensar que o nosso concelho é um rincão agreste e pobre do nordeste brasileiro ou um pequeno território incrustado nas montanhas do Uruguai, onde há fome e reina a miséria e onde "as mulheres desfiam Rosários e se livram de padecimentos".
Este é um artigo pré-formatado, onde os factos são forçados a encaixar-se , pois foi concebido para testemunhar e retratar a realidade de uma comunidade que vive à base da subsistência, pois foi para isso que a jornalista foi incumbida, no âmbito do máximo denominador comum e tema de momento o Dinheiro.
A jornalista faz uma espécie de baile mandado entre a Panchorrinha e S. Cipriano, discorrendo poeticamente sobre tudo e sobre nada (semana cultural e festa de S. Cipriano, incêndio do autocarro da banda de música "A Velha", mineiro/bruxo...), distanciando-se do tema d' " a sobrevivência".
Gosto e visito muitas vezes a Panchorrinha (ainda lá estive há quinze dias ). É das aldeias mais bonitas e preservadas do concelho, tão bem retratada num belo texto de Paulo Sequeira, escrito há cerca de dois anos no Jornal de Resende. As poucas pessoas que lá subsistem (dignamente, com muita qualidade de vida ) estão nos antípodas da imagem que o artigo pretende veicular. A Rosita vai normalmente (todos os dias) à escola, apascentando o rebanho nas horas livres de fim de semana. Aliás, o insucesso escolar em Resende não reside no trabalho infantil, mas em desincentivos de vária ordem.
A população do concelho de Resende está envelhecida, vivendo essencialmente de pensões de reforma e encontrando no amanho das terras (e nas cerejas, vindimas do Douro e castanhas) um complento valioso para o orçamento familiar. Não sobrevive. Tem até uma razoável qualidade de vida. Faz inveja a grandes cidades do litoral , onde se contam os tostões e onde muitas famílias têm de se abastecer envergonhadamente no Banco Alimentar.
É pena que o artigo se detenha tendenciosamente numa "sobrevivência romântica," não fazendo uma síntese do desenvolvimento concelhio, omitindo propositadamente a obra (imensa) dos mandatos do Dr. Brito de Matos e do Eng. António Borges à frente dos destinos da Câmara Municipal.
O Município, felizmente, promove e dinamiza múltiplas iniciativas de natureza cultural e desportiva ao longo do ano, dispondo de infra-estruras ímpares para os visitantes, sobretudo no Verão (fluvina de Caldas de Aregos, piscinas (municipal, Caldas de Aregos e Porto de Rei) e praias fluviais e espaços envolventes de Porto de Rei, ponte da Lagariça e Panchorra. A sede do concelho é uma pequena urbe moderna e S. Martinho de Mouros está à altura da nobreza de outrora.
Resende precisa sim e urgentemente, como de pão para a boca, de um investimento estruturante criador de emprego. Esperemos que a aposta do Grupo Amorim na área do turismo/resort , prevista para o concelho, se concretize rapidamente.