terça-feira, junho 13, 2006

Tripalium

Sempre fui adepto do ideal da cultura do ócio. Cada um deveria ter proventos que lhe permitisse escolher as actividades que bem entendesse. Incluindo dedicar-se à leitura, às artes, à filosofia e à ciência nos intervalos de descanso.
O trabalho enobrece, dizem os compêndios. Contudo, os nobres mandavam os outros trabalhar. E nunca vi qualquer elemento do alto clero pegar numa enxada ou numa picareta em coerência com a afirmação da Igreja de que o trabalho dignifica.
A minha relação com o trabalho braçal foi traumatizante. Não admira. Bastam estas duas situações vividas em criança para as quais se exigia uma força hercúlea: i) ter de manobrar uma serra em conjunto com um adulto, sendo forçado a corresponder ao ritmo da sua força e velocidade; ii) ter de segurar uma escada , encostada a uma árvore frágil, com um adulto num dos degraus cimeiros.
Ainda, por cima, quem legitimamente fugia ao trabalho era enxovalhado com o epíteto de padiola.
Soube mais tarde, através da investigação etimológica, que os meus traumas em relação ao trabalho se justificavam. A palavra trabalho vem de tripalium, instrumento de tortura, feito de três paus, que originou, por sua vez tripaliare/trabalhar.
Actualmente, estou reconciliado com o trabalho manual, porque sou eu a decidir a minha relação e condições para com o mesmo. E cá estou eu, em Anreade, em trabalhos de capinagem, durante esta semana...
Afinal até a meteorologia está ao meu lado. Durante toda a tarde, tem estado estado sempre a chover, adiando o trabalho para amanhã, se o tempo o permitir. Mas esta chovinha é oiro...