As festas dos santos populares são o pretexto para evocar e exaltar a vida que o sol, no solstício, traz consigo. É, por isso, que, em muitas localidades, pelo S. João, se fazia uma fogueira que impedia o sol de esmorecer no seu esplendor. Desde tempos imemoriais que a celebração do solstício de Junho integra cultos naturalísticos relacionados com o ciclo das colheitas, onde estão patentes manifestações e ritmos de oferendas e de petições. É neste contexto que se explicam as orvalhadas de S. João, ou seja, a colocação de ramos verdes de árvores nos campos de culturas, nomedamente de cereais, na madrugada do dia 24 de Junho, pelo cair do orvalho. Esperava-se que este ritual mágico, utilizando a árvore como símbolo da fecundidade e da vida, produzisse efeitos benéficos no tocante à quantidade e qualidade das colheitas que se aproximavam. Ainda me lembro de acompanhar o meu pai na colocação de um ramo verde num campo de centeio e da ambiência mágica deste acto. Nada me foi explicado, pois este gesto, integrado no ciclo dos ritmos da vida e das estações, era um legado que transcendia as pessoas, servia a coesão identitária e deveria ser repetido anualmente em louvor da natureza e a favor das forças da sorte. |