Li, há já algum tempo, a primeira encíclica de Bento XVI. Não fala de assuntos que a comunicação social gosta de explorar: moral sexual, uso do preservativo, divórcio, casamento de padres, homosexualidade, pedofilia... Fala antes de eros, ágape, philia, diakonia, amor concupiscentiae e do amor benevolentiae. E que cita Platão, Virgílio, Gascendi, Descartes e Nietzsche. É um sinal de que a fé pode e deve ser enriquecida e iluminada pela razão, mergulhando na filosofia, na ciência e na cultura "laicas". Em síntese, é um documento de índole filosófica e teológica, de reflexão e de enquadramento para a acção/caritas.
Recordo duas passagens cujo eco persiste:
1-"No início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo"(Introdução);
2-"O amor-caritas será sempre necessário, mesmo na sociedade mais justa. (...) Sempre haverá sofrimento a precisar de consolação e ajuda. Sempre haverá solidão..."(alínea b, n.º 28, II Parte).