Versão do Jornal de Notícias (transcrição)
Os dois irmãos andavam zangados há anos por causa de partilhas. Mas, ultimamente, o mais velho desconfiava que a mulher o traía precisamente com o irmão, que o matou a tiro junto a casa, em Resende.
Os dois irmãos andavam zangados há anos por causa de partilhas. Mas, ultimamente, o mais velho desconfiava que a mulher o traía precisamente com o irmão, que o matou a tiro junto a casa, em Resende.
"O Carlos julgava que o meu marido andava com a mulher dele, que é minha irmã. Há uma semana, já andaram à porrada um com o outro por causa disso, mas já andavam zangados há anos devido às partilhas da casa. Quando fui levar o lixo, o meu cunhado, que já devia estar bêbado, começou a insultar-me, bateu- -me com um ferro e deu-me pontapés. O meu marido apercebeu-se e pegou na caçadeira e matou-o. Depois foi entregar-se à GNR".
Foi desta forma que Ana Sofia Vieira, mulher do homicida Fernando Rodrigues, que assassinou o irmão, anteontem à noite, em S. Martinho de Mouros, em Resende, explicou, ao JN, as circunstâncias em que o cunhado, Carlos Alberto, 46 anos, foi morto.
A mulher não tem dúvida de que o marido, entretanto detido pela Polícia Judiciária, foi defendê-la das agressões. "Ele estava com um ferro e uma faca. Ainda fiquei com marcas de tanto me bater. Depois fez--se ao meu marido, que teve de lhe dar o tiro para ele não me matar. Ele ainda lhe gritou que era um corno e que o ia matar. Ao ouvir isso, o meu marido passou-se", afirmou Ana Sofia, mãe de quatro filhos menores, que chorava com a possibilidade do marido ir para a cadeia. Fernando foi intercetado pela GNR de Resende quando se dirigia para o posto e a caçadeira foi apreendida. Detido pela PJ, foi levado ao juiz que decretou prisão preventiva.
Já a viúva, que ontem foi para a casa da mãe, com a filha de 14 anos, por não aguentar ficar onde o marido tinha sido assassinado na véspera, estava inconsolável. "Quando cheguei à beira dele, já não se mexia. Ele não ia fazer mal a ninguém nem tinha nenhum ferro nas mãos. Apenas ia à garagem buscar uma garrafa de cerveja e foi morto", disse, ao JN, Augustinha Vieira, que estava dentro de casa quando o marido foi assassinado.
O homicídio aconteceu no isolado lugar de Silvas, onde apenas vivem 27 pessoas. Todas as semanas, os dois irmãos, que vivem na mesma casa com as respetivas famílias (uma no primeiro andar e a outra no rés-do-chão), arranjavam um motivo para discutir. A casa era do pai e os dois irmãos ocuparam-na há muitos anos, com as mulheres, que também são irmãs.
Desde esse tempo que não se dão. Há uma semana, envolveram-se em agressões mútuas, depois de Carlos ter dito à mulher do irmão que Fernando era amante da Augustinha. Ana Sofia não acreditou, mas a suposta relação e as acusações deixaram profundas mágoas tanto em Carlos como em Fernando.
Na terra, os vizinhos, que rejeitam a teses do crime passional, apenas encontram uma explicação: as zangas por causa da disputa da casa.
Versão do Correio da Manhã (transcrição)
Foto: Agostinha Vieira chora a morte do marido, Carlos Guedes, morto pelo irmão
"Foi por causa de um gato que o meu cunhado matou o meu marido", diz aos gritos a viúva Agostinha Vieira, sem voz de tanto gritar pela perda do marido e pai da sua filha deficiente.
O crime ocorreu às 21h00 de domingo. Agostinha Vieira confirma que os irmãos "davam-se muito mal". "No domingo, eu e o meu homem fomos ao café a S. Martinho e tivemos o azar de atropelar um gato. Regressámos a casa e o Carlos ficou furioso e disse uns palavrões por ter ferido o animal. O meu cunhado e a minha irmã ouviram tudo e pensaram que os palavrões eram para eles. Não eram", garante.
Minutos depois, Carlos disse à mulher que ia ao armazém buscar uma cerveja e não voltou. "Ouvi um tiro, fui logo à rua ejá só vi o meu Carlos com a cabeça desfeita, tombado na rua e a sangrarmuito", diz a viúva, lavada em lágrimas. O suspeito ausentou-se da aldeia e foi a pé entregar-se à GNR de Resende. Devido às constantes desavenças e ameaças entre irmãos, os vizinhos não ficaram surpreendidos com o desfecho trágico. "Era uma questão de dias", diz uma vizinha que ficou chocada com a forma como Carlos foi executado. "O pobre coitado caiu na rua com a cara toda desfeita",frisa.
A partilha da casa que os dois homens herdaram foi o principal factor de discórdia entre irmãos. Carlos vivia com mulher e filha no primeiro piso; Fernando, mulher e quatro filhos – três menores –, viviam no segundo.