sexta-feira, abril 30, 2010

Anselmo Borges falou de fé, ciência e fundamentalismos








No âmbito do ciclo de colóquios “Filosofia e Filosofar-que interessa isso hoje?”, Anselmo Borges debateu ontem, à tarde, na Livraria Estádio Cidade de Coimbra questões em torno da fé, ciência, intolerância e fundamentalismos.
Eis uma síntese não rigorosa, “que me ficou como linha condutora”. 90 minutos não podem ser vertidos em duas linhas. Começou por explicar a origem da palavra fé e confiança, cuja raiz etimológica é comum, e a sua relação com crer, acreditar, dar crédito. Socorrendo-se da psicologia, como suporte do sentido e do significado destas palavras, referiu que os bebés dão naturalmente crédito à mãe e confiam nos pais. A falta de confiança abre crises. A vida não decorre harmoniosamente. O crescimento abre brechas. Quando não se confia em si, nos outros, nas instituições, nos mercados, surgem crises. É a realidade que nos toca e move. E é aqui que surge a razão, a reflexão, a interrogação para dar resposta às crises, à realidade. A ciência é o tipo de resposta racional que exerce mais fascínio para a explicar. E porquê? Porque o processo científico obedece a regras, metodologias, instrumentos e critérios transparentes, objectivos, cujos passos podem ser replicados e os resultados podem ser sempre refutados. E aqui pode surgir o primeiro fundamentalismo, caso a ciência tenha a pretensão de responder a todas as questões e julgue ter o monopólio da razão.
De facto a ciência não responde capazmente a todas as questões, às questões últimas: Por que razão há algo e não há nada? Qual a orientação de tudo? Qual o seu fundamento último?
As religiões procuram responder a estas questões profundas. Os crentes têm a convicção que a realidade não se reduz ao imediatismo, havendo uma exigência de sentido. A realidade aparece-lhes como implicando a presença do divino e transcendente. Os Fundadores e Profetas, com um carisma especial, fizeram esta leitura e interpretação. Traçaram um caminho. “As religiões não caíram do céu nem os livros sagrados foram ditados directamente por Deus”, disse. Por isso, a fé não é cega. Os crentes têm razões para acreditar, assim como os agnósticos e ateus terão as suas para duvidar, não acreditar ou defender a inexistência de Deus. A bíblia não é um livro de ciência nem pode ser interpretada literalmente.
A intolerância nasce da angústia de as pessoas poderem não ter razão. Entre a liberdade/abertura e a segurança, muitos escolhem a segurança, as interpretações fixistas, a verdade estabelecida para todo o sempre.. Quem se julga detentor da verdade cai no fundamentalismo. Quem faz uma interpretação literal da bíblia desemboca no mesmo caminho. Mas, por outro lado, quem não tem referências religiosas cai no niilismo. Terminou referindo que a defesa e preocupações pelo fundamentalismo não nasceram nos dias de hoje, com o islamismo, mas nos inícios do século passado, na América, no seio de algumas comunidades protestantes que defenderam e teorizaram uma interpretação literal da bíblia em oposição às correntes da teologia liberal.