domingo, outubro 11, 2009

Carta informal aos meus filhos, lá bem longe

















Bruno e Ivo:
Escrevo-vos no rescaldo da vitória de Portugal frente à Hungria. Ao entusiasmo de cada golo transportei a presença da vossa vibração e da vossa alegria. Tu, Bruno, saíste confiante como sempre de cachecol em riste e foste ver o jogo com os amigos. O futebol é para ti um pretexto de festa e de convívio. E tu, Ivo, equipaste-te a rigor e seguiste o espectáculo como uma conjugação de uma arte com passes de mágica e de um combate bem estruturado e preparado ao pormenor. De tão longe, no Brasil e na Austrália, senti-vos tão perto.
Fui para Resende na passada 5.ª feira, donde cheguei cerca das 19h de sábado. Gosto sempre de ir à terra onde nasci, mas esta viagem tinha contornos especiais. Não é todos os dias que há eleições autárquicas. Desta vez, a intenção foi percorrer o caminho das eleições pelas várias freguesias, fazendo o levantamento da paisagem dos cartazes e da propaganda das várias listas por montes e vales, por caminhos e aldeias. Foi uma oportunidade feliz de experimentar o jipe (que se portou à altura) e de partilhar convosco o percurso que fiz.
Quando era da vossa idade e partia em viagem, o vosso avô Alfredo recomendava-me sempre para escrever um postal quando chegasse. E nunca falhei. Sempre fui de poucas falas, dizem. E na volta de correio, lá chegava o tal postal. Depois, quando as saudades apertavam , lá seguia uma carta mais longa. Neste percurso relembrei as terras que palmilhei em pequeno, para feiras, festas, fazendo recados ou até levando a marmita do almoço para o vosso avô. Não posso, por isso, deixar de partilhar o que observei nestes dias por estas terras que são parte de mim e de que vos incuti igual gosto.
Como já referi, segui por aí acima na passada 5.ª feira. Cheguei a Feirão por volta das 13h, em início de tarde com bastante nebulosidade. À entrada, estavam posicionados dois outdoors com os candidatos à Câmara Municipal pelo PS e pelo PSD. E nada mais mais fazia lembrar eleições. Ali perto, estava uma pastora a recolher uma dúzia de ovelhas. Depois passei no meio da aldeia sem ver vivalma. Já agora para vossa informação vos digo que Feirão tem menos de 150 eleitores e, por isso, no próximo domingo não haverá aqui eleições para a assembleia de freguesia. Esta será substituída pela assembleia de cidadãos eleitores, sendo o respectivo presidente da junta eleito pelo plenário. Após passar Feirão, saquei de uma sandes e de umas maçãs que saboreei junto a um penedo.
Depois, bem depois, fui até à Talhada. Na aldeia, a mesma cena, que se irá repetir sempre nas localidades principais: dois outdoors (Eng. António Borges e Prof. Joaquim Rodrigo) e faixas de plástico apelando ao voto no PSD. Na Panchorra, observei um grupo de seis pessoas falando animadamente no largo junto à igreja. Infelizmente, preferia não ver vazadouros de entulhos junto à estrada, em plena serra de Montemuro.
Seguidamente, dirigi-me à Panchorrinha, que descansava tranquila sob nevoeiro ameno. O único registo a lembrar eleições era um convite, afixado no abrigo da paragem dos autocarros, para um arraial "no domingo, dia 4 de Outubro, a partir das 14:30, no campo de futebol do Rodo, com muita animação, rancho folclórico e porco no espeto", organizado pelo PSD. Na Granja, finalmente pude ver um placard com um candidato a presidente da junta (de Ovadas), Ricardo Colaço, pelo PSD.
Já, em S. Cipriano, a lista de independentes PSC Por S. Cipriano estava publicitada em vários placards. Elementos da mesma foram vistos a fazer propaganda porta a porta, em viatura cujos altifalantes apregoavam apelos ao voto. De resto, a vindima ainda prosseguia por aqui.
Na descida para Freigil, enquanto era forçado a uma paragem para manobras de máquinas em arranjo e requalificação da respectiva estrada, ia ouvindo ao longe apelos ao voto no PS para a Câmara Municipal.
Muito perto de Miomães, trabalhava-se afanosamente para terminar um parque com bancos e mesas de pedra.
Em S. Romão, junto ao Lar e Centro de Dia, lá estavam os outdoors com as duas "vedetas" habituais. Na descida, um carro velho (que devia estar na sucata) jazia junto às bermas.
Já, em Anreade, uma lista do PCP à respectiva junta de freguesia marcava a diferença.
No percurso de Resende até à igreja de Cárquere nada havia que lembrasse eleições, a não ser os tais dois outdoors.
A aposta de maior número de placards e outros meios de propaganda por parte do PS e PSD recaiu na vila. A presença do PCP é modesta.
Na 6.ª feira à tarde, passei por S. Martinho de Mouros, Barrô e S. João de Fontoura. A destoar da monotonia da passagem eleitoral, há a assinalar a propaganda da lista independente a esta última freguesia PSJF (Por S. João de Fontoura), que se recandidata ao 2.º mandato. Neste percurso, fui ouvindo propaganda do PS e PSD vinda de altifalantes montados em tejadilhos de carros. Já na vila, pude observar uma arruada com militantes do PS e o desenrolar dos preparativos da festa desse dia à noite com Adelaide Ferreira, no Largo da Feira. Contactei a sede de campanha do PSD para saber se haveria alguma iniciativa para o encerramento , tendo sido informado que, por opção bem ponderada, não estava prevista nenhuma acção especial.
Ontem, sábado, ainda tive tempo de dar uma volta até junto da igreja de Paus, onde pude observar um outdoor do candidato do PSD à junta de freguesia, Paulo Coelho. Bem próximo, decorriam as obras do futuro estacionamento de viaturas. Já a caminho de Coimbra, parei em Felgueiras, mas nada vi que me chamasse a atenção.
Já quase a terminar esta viagem, convém referir que o PS não apresenta qualquer outdoor de candidatos a presidentes de junta. Preferiu apostar em desdobráveis "assinados" pelo candidato à CM, António Borges, e candidato à respectiva Junta de Freguesia, em que são salientadas as obras feitas pela Câmara e pela Junta (no caso de ser da mesma cor partidária), tirando partido desta convergência.
O PS e o PSD apostaram numa campanha de proximidade: rua a rua e porta a porta. Nunca as pessoas se sentiram tão importantes e imprescindíveis, valendo por igual o voto do rico e do pobre, do culto e do ignorante.
Bruno e Ivo, conhecendo como conheço a vossa irrequietude, se fôsseis chamados a opinar sobre as linhas-força destas eleições, não deixaríeis de apregoar e fazer a pedagogia democrática da diversidade, da pluralidade, do respeito pela diferença de ideias e das vantagens do poder ser contrabalançado pelo contributo saudável de uma oposição forte e clara. Aprendestes que a resolução dos problemas pode ser facilitada pelo desenvolvimento de diferentes perspectivas e metodologias. Vocês sabem que o fermento do progresso e do desenvolvimento reside no confronto democrático das ideias. Diferentes entendimentos seriam para vocês um estímulo (e nunca um obstáculo) ao desenvolvimento, desejado por todos.
Já tenho saudades dos debates acalorados que sempre animaram os nossos jantares, tendo como pressuposto os princípios atrás expostos. Reconheço em ti, Bruno, um tribuno ágil, "um osso" difícil de roer. Admiro em ti, Ivo, a reflexão e a ironia sempre certeira.
Esta carta já vai longa. Tenho de terminar. Como ilustração e para memória futura, junto algumas fotos que fui tirando pelas 15 freguesias, designadamente de material de propaganda exposto ou de distribuição.
Não imaginais quanto orgulho sinto por vós. Um grande abraço do pai.