sexta-feira, dezembro 26, 2008

Memórias da vila

Acabei de ler Istambul-Memórias de uma cidade, de Orhan Pamuk. O que me levou a comprar este livro foi poder estabelecer uma comparação entre o olhar deste autor face às suas vivências em Istambul e as minhas memórias de infância relativamente à vila de Resende. Embora já em 4.ª edição (portuguesa) e apresentando na capa frases apelativas "um livro irresistivelmente sedutor" ou "extraordinário e comovente", foi uma obra que não me empolgou. A visão que o autor reflecte sobre seu percurso pela cidade é demasiado pessimista e triste. Perpassa nele a nostalgia do passado de grandiosidade do Império Otomano e a decepção pelo atraso da cidade relativamente às grandes capitais europeias de então.
É uma visão que não partilho relativamente às memórias que guardo da vila de Resende. Para quem chegava das aldeias, a vila representou/representava o fervilhar de vida. Era o centro comercial e a verdadeira capital administrativa e judiciária de que todos dependiam e onde tudo se resolvia. Aliás, num único edifício. Onde funcionava o tribunal, conservatórias, notariado, finanças e todos os serviços da Câmara Municipal.
Permanece indelével a oficina do ferrador e a admiração por ser a única no concelho. Mas pensava: ferrar uma besta sem levar um coice é uma arte ao alcance de poucos.
Recordo-me da azáfama dos dias de feira, dos pregões dos feirantes e do feitiço dos vendedores de banha da cobra.
A vila tem sabido modernizar-se. Por isso, tal como no passado, continua a ser apelativa. Nesta quadra, parece ter interiorizado o espírito de Natal com a sobriedade da iluminação e a suavidade das músicas.