Egito Gonçalves, um dos grandes poetas portugueses do séc. XX, gostava de vir à nossa região, nomeadamente à serra de Montemuro, aproveitando para comer um dos melhores cozidos à portuguesa, confeccionado no restaurante Encosta do Moinho da Gralheira.
A retratar este gosto, aqui fica um excerto de um poema do livro Entre mim e a minha morte, há ainda um copo de crepúsculo, a editar pela "Campo das Letras":
Um dia não estarei. Custa
escrever isto. A cidade ter-me-á
perdido, as coisas que chamei minhas
estarão dispersas, algumas viverão ainda amadas
por quem amei. Penso nisso quando sei
que não subiria hoje as escadas
do Barredo. Nem sequer as da Vitória,
parando no patamar para um mergulho
na paisagem que o rio anima, o que
fiz tanta vez sem perder o fôlego.
Não me proporia atravessar o Montemuro
para um cozido enxundioso na Gralheira.
Um dia não estarei. É o normal!
(...)
Refira-se que Egito Gonçalves nasceu, em 1922, em Matosinho, e morreu, em 2001, no Porto, onde passou a maior parte da sua vida. Deixou vários livros publicados. Foi também editor e tradutor, tendo pertencido a vários movimentos oposicionistas ao regime de Salazar.