Corria o ano de 1958. Ano eleitoral marcante, pois foi nessa altura que Humberto Delgado fez tremer o regime de então. Em Paus, não havia televisão, rádio nem jornais. A quase totalidade dos adultos era analfabeta.
Recordo-me (tinha então 8 anos) de me ter sido dado na escola um folheto de propaganda, onde se enaltecia e se apelava ao voto em Américo Tomás como "o candidato da Nação" e se denegriam as figuras de Humberto Delgado e de Arlindo Vicente.
Alguém, na altura, me incutiu a ideia que o mais pejudicial para o país era Arlindo Vicente, por ser comunista. Entretanto, este veio a desistir a favor de Humberto Delgado.
Alguém, na altura, me incutiu a ideia que o mais pejudicial para o país era Arlindo Vicente, por ser comunista. Entretanto, este veio a desistir a favor de Humberto Delgado.
Lembro-me de o meu pai, depois de ter votado em S. Martinho de Mouros, me ter confidenciado o nome de uma pessoa conhecida como sendo abertamente simpatizante de Humberto Delgado.
Pouca gente podia votar. Apenas "os cidadãos do sexo masculino que sabiam ler e escrever portugês" ou, não o sabendo, pagassem impostos no valor de 100$00 (cem escudos) podiam votar. Às mulheres, salvo uma minoria devidamente tipificada, estava vedado o exercício deste direito. Os analfabetos, pobres e mulheres eram considerados ignaros, logo inaptos para politicamente discernirem fosse o que fosse.
As gentes do mundo rural, atrasado e pobre, eram duplamente vexadas. Pelos homens do regime, que as desconsiderava, não passando do "bom povo português", e pela oposição onde se incluiam homens cultos e "iluminados", muitos intelectuais e antifacistas, que as julgavam desprovidas de "massa crítica", onde pudesse germinar a mudança e a revolta.
Pouca gente podia votar. Apenas "os cidadãos do sexo masculino que sabiam ler e escrever portugês" ou, não o sabendo, pagassem impostos no valor de 100$00 (cem escudos) podiam votar. Às mulheres, salvo uma minoria devidamente tipificada, estava vedado o exercício deste direito. Os analfabetos, pobres e mulheres eram considerados ignaros, logo inaptos para politicamente discernirem fosse o que fosse.
As gentes do mundo rural, atrasado e pobre, eram duplamente vexadas. Pelos homens do regime, que as desconsiderava, não passando do "bom povo português", e pela oposição onde se incluiam homens cultos e "iluminados", muitos intelectuais e antifacistas, que as julgavam desprovidas de "massa crítica", onde pudesse germinar a mudança e a revolta.