O diretor do Agrupamento de Escolas de Resende, Manuel Luís Tuna, apontou o contexto socioeconómico do concelho e a existência de aulas em contentores como fatores que terão contribuído para os maus resultados nos exames do 12.º ano.
Situada no Norte do distrito de Viseu, a Escola Secundária de Resende, sede do agrupamento, ficou em 495.º lugar do ranking com média de exames de 7,34 e média de classificação interna de 12,62.
Em declarações à agência Lusa, Manuel Luís Tuna disse ter ficado surpreendido por a escola ocupar o último lugar da tabela, embora já tivesse a noção de que "os alunos não teriam notas muito elevadas".
"Tanto a Português como a Matemática os resultados surpreenderam-nos pela negativa, até porque ao longo do ano tínhamos feito um trabalho com os alunos no sentido de, além das aulas normais, lhes darmos um apoio extra para ajudar nas dificuldades", explicou.
Manuel Luís Tuna contou que a escola sentiu necessidade de dar esse apoio aos alunos atendendo a que "eles não tinham explicações, são de um extrato económico com poucas possibilidades e a família ainda não investe tanto quanto deveria na escolarização dos seus educandos".
Segundo o responsável, dos alunos que no ano passado fizeram exames do 11.º e 12.º anos "82% eram beneficiários de ação social escolar".
"Face aos resultados, este ano alterámos o esquema dos apoios no sentido de os conseguirmos melhorar", avançou, referindo que "há uma equipa de professores sempre disponível" para ajudar os alunos.
Manuel Luís Tuna disse que está também a ser feito um trabalho de motivação dos alunos para frequentarem esses apoios e para que percebam "que é importante concluírem o 12º ano, se possível com uma média que lhes permita avançarem para o ensino superior".
"Temos um contexto que não ajuda. A motivação e responsabilização, muitas vezes até por parte dos pais, não é aquela que nós desejávamos", lamentou.
Por isso, o trabalho da escola passa por também envolver os pais, para lhes fazer ver que "a escolarização é importante e há mais caminhos para além do trabalho sazonal nas quintas do Douro".
O diretor do agrupamento contou que, se há alguns alunos que até pensam continuar os estudos, outros "a única coisa que pretendem é concluir o 12º ao e depois arranjar um emprego ou emigrar".
"As expectativas de emprego locais são muito reduzidas e isso também penaliza em termos de motivação, de expectativas, de ambição", frisou.
Manuel Luís Tuna está confiante de que o trabalho que a escola tem vindo a desenvolver nos últimos anos "mais cedo ou mais tarde, dará frutos".
"Por exemplo, no ano passado, relativamente ao exame do 9º ano de Matemática, conseguimos tirar uma média superior à nacional. Isso deixou-nos muito satisfeitos e muito confiantes de que, no futuro, as coisas irão alterar-se", contou.
A sua esperança prende-se também com a previsão de que, nos próximos meses, as obras da escola secundária ficarão concluídas e acabarão as aulas em contentores.
"A grande maioria das salas de aulas são em monoblocos e isso também é relevante. Há um cansaço de viver permanentemente nessa situação, que se nota tanto ao nível dos alunos, como dos professores", acrescentou.
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