Apaixonou-se em Paris por Isabel, uma nossa compatriota, e depois pela música e cantares tradicionais portugueses. Referimo-nos a Michel Giacometti, cidadão francês, nascido na Córsega em 1929, tendo ido para Argélia, onde passou toda a juventude. Nesta fase, teve oportunidade de percorrer todos os países da bacia mediterrânea, o que lhe despertou uma vocação especial para se aproximar das diferentes culturas e das suas músicas tradicionais. Com uma grande facilidade aprendeu a falar várias línguas: espanhol, italiano, árabe, grego, sardo e norueguês, além do francês e corso. Em 1958, inscreveu-se em Etnologia na Sorbonne. No ano seguinte, mudou-se para Portugal a conselho de um médico, porque, entretanto, contraiu uma pneumonia, e ele achava que os ares do Atlântico poderiam ajudá-lo a curar-se.
Nos anos 60 percorreu todas as zonas rurais do país, chegando aos locais mais recônditos e de difícil acesso, quase sem colaboradores, tendo efectuado o registo de 4.000 reportórios musicais (136 horas de gravação), elaborado 50.000 fichas informativas e tirado 6.000 fotografias de grande valor estético. Entre 1970 e 1974, foi responsável por um projecto inovador "Povo que Canta", destinado a ser exibido na RTP, constituído por uma série de programas sobre práticas musicais ditas tradicionais. As recolhas cinematográficas ocorreram entre 1970 e 1972, tendo passado na RTP entre 1971 e 1974 (o 25 de Abril levou ao abandono do projecto).
Vinte anos após a sua morte (Giacometti morreu em 1990), uma parceria entre a "TRADISOM," que assume a edição, a RTP, que liberta materiais de arquivo, e o jornal
Público, como meio difusor, permitiu a reposição da Filmografia completa deste grande etnólogo, apaixonado pela música e cultura tradicional portuguesa. A colecção é composta por 12 Livros+DVD, que começou a ser vendida com o
Público, às segundas-feiras (com início em 22 de Novembro de 2010 e fim em 7 de Fevereiro de 2011).
Ora o nosso concelho também esteve representado, através de Paus , na referida série televisiva, precisamente no último programa, umas semanas antes do 25 de Abril, tendo as cenas sido filmadas em Córdova. Os respectivos conteúdos integram o 9.º volume, que saiu com o Público de hoje, dia 17 de Janeiro.
Para assinalar este facto, o editor da TRADISOM, José Moças, deslocou-se propositadamente a Paus, ontem, dia 16, para apresentar o respectivo DVD e livro, o que aconteceu, por volta das 15h00, na sede do rancho.
Alguns dos protagonistas do filme, entre eles Manuel Miguel (o "Manelzinho"), exímio tocador de rabeca, e muito público (cerca de 400 pessoas) puderam rever-se e reviver memórias de há 40 anos. Tiveram oportunidade de assistir a uma vessada, acompanhada do canto "Arrula, arrula", um "cremol", entoado a três vozes, e à interpretação musical da famosa chula e "valsas antigas".
Foi uma tarde repleta de emoções. O editor José Moças (da TRADISOM), um apaixonado pela música tradicional portuguesa, ex-funcionário judicial em Macau e presentemente aposentado, estava encantado por ver tanta gente. "A editora sou eu com os meus 75Kg de peso e 1,80cm de altura", diz bem disposto.
O senhor Manelzinho era um homem feliz por contemplar o jovem artista com vinte e poucos anos. Por diversas vezes, teve de conter as lágrimas. Perguntado como é que aprendeu a tocar rabeca, disse: "sozinho, de ouvido; comecei por tocar gaita de beiços e depois concertina; seguidamente, pedi ao meu pai para me comprar um violino; apurei o toque com o Aniceto Marreta". E pronto. Mais palavras para quê?
